Com palavras e imagens se constroi
A vida e o futuro. O céu é feito de arte
E o belo a essência da vida.
Havia uma neblina na nossa paisagem,
Uma luz filtrada, uma morgana visão
Uma distorcida imagem do que somos
E quem somos. Afinal quem somos?
E a serra aqui tão perto e desconhecida
E modificada
E os nossos ancestrais ignorados
E a vida escorraçada
E o queixume das almas penadas
Em danças de exaltação à volta de uma harmónia
De uma fogueira e de uma arguardente.
Glória a quem preserva.
Dos faraós, aos nossos avós.
No Açor, como na Beira e da estrela serra
Agora e na hora de sempre.
Que a morte não nos apanhe distraidos
Na armadilha da demência.
Adulterar é ainda pior do que ignorar.
Sejamos verdadeiros
E quem não sabe, que se cale.
Esquecer, nunca!
Depois do frio, da neve, da geada
Depois dos agasalhos e dos dias nocturnos
Comecemos como se tudo estivesse a despontar,
A começar a irromper.
Porque tudo está prestes a renascer
Porque hoje é Primavera, porque hoje é véspera
Hoje é o amanhã que se reconstrói
E o todo depois que virá em luz
Em nitidez em harmonia e em verdade,
Depois da véspera: o dia.
Parabéns! O meu filho nasceu
No dia em que a liberdade se levantou,
Ergueu as asas e voou.
Tudo ficou para sempre diferente, melhor,
Foi de véspera que se preparou.
É a minha vez de recuar e deixar o mundo viver.
Hoje é véspera e despedida. Amanhã alvorada
Depois a estrada e mais longe, lá onde a vida fervilha
A tua luz e as memórias de sermos o mesmo,
(O universo onde tudo passa tão depressa,)
Que tu és, e eu já não sou.
Ambos desejando o que fomos, o que somos.
E tudo se enxameia e desaparece.
Recorda-me apenas com amor.
A ideia é angraçada. Poema da latinidade, mas eu não tenho nada!
Nem meu corpo já resiste, onde insistes em me encontrar, porque não estou aqui
Nem ao vento, nem ao luar. Morri!
Sou talvez um extra. Que se oferece como brinde, promoção e resto de stock
Para o cliente, sou um destralhar. Vês, como me ignoro, anda daí vem almoçar!
Seduzido, enganado, o meu amor dá-me a mão e segurando um copo de vinho
Festejamos o inverno, a primavera e o verão, e juntos connosco, outros virão.
Carlos Arinto
É nas coisas bonitas, como o mar,
Que morremos
É nas coisas que amamos, como tu
Princesa, que morremos!
E nas coisas deslumbrantes que existam
Como o sol, que morremos.
É na sombra de um luar, riscado de nuvens
Que morremos.
É nos amigos que nos abandonam
Que morremos.
É na ausência do teu corpo e do teu sorriso
Que morremos.
E todo o mundo fica diferente,
Sendo igual.
Incendeiam-se as tardes, que ainda são de inverno
E um nevoeiro cresce na silhueta das luzes frouxas dos candeeiros
Enquanto uma chuva, miudinha, espalha borra e cinza
Sobre as cabeças dos poucos que arriscam andar na rua.
Um éspelho de águas geladas mostra o rosto granitico
Que esculpido nos caboucos das fragas já lá estava
Ainda a ribeira e os poços não eram nascidos.
Sim, tu és muito anterior ao dilúvio à glaciação à natividade.
E agora que é verão, e que as águas voltaram a descer
O cabelo amadurece e as trelicias dos teus olhos azuis
São muxarabiês como velas de barcos a nevegar no Tejo da latinidade.
Amo-te, porque te vi nascer e na beleza do cristal te beijo.
A noite cobre o sagrado manto da nossa liberdade
E voando sobre os telhados de Lisboa adormecemos
Porque o nosso destino é estar no infinito.
Antes de serem rios
As águas já eram rostos...
O teu rosto!
Antes do teu rosto havia nuvens
E toda a terra estava em silêncio.
Depois as nuvens deixaram-se plainar
E formaram os rios, os lagos e os mares
Em cada espelho lá estava o teu rosto
Em todos os caudais a tua presença
E a natureza viu que era bom!
Um rio que sorri e se engrandece
Um rio que não pára quieto
Um rio que se transforma, transformando
Um rio que desagua em beleza e em sentimento
Um rio que é a tua cara
E se revela no infinito do antes
Para se tornar no infinito do depois.
Aqui não há barcos
A água escorre naturalmente
Das montanhas
E depois, desaparece em caudais
Ou em serpentina pelo chão.
Nas margens repousam fios de verdes
Castanho de folhas e musgo. Acácias,
Carqueja, carvalhos, camélias
E diospiros como luzes de natal.
Toda a montanha se esvai
E sossega por entre penedos e rochas
Que se erguem do chão
E se espalham por povoados
De gente, de bichos e de silêncio.
Há um sol luminoso fazendo espelho
Das águas, dos rios, das quedas
Na força bruta constante de fazer caminho.
Há um sol que acaricia toda a vida
E torna o frio, o gelo e a névoa
Parceiros dos que chegam, cumplices
Dos que estão.
O Inverno hiberna, é nos com ele
Sentamo-nos à fogueira para ouvir uma história.
Sabendo que hoje já nada é assim,
Mas insistimos, pode ser que pelo sonho
Nos tornemos mais jovens! Pode ser!
Embrulhados no frio. Revivemos!
Há sempre aberrações
São conversas,
Diálogos, troca de impressões.
Acredito que está a acontecer
Agora, que foi assim,
Que a atitude conta
Que o palheiro está cheio
E cheira a bosta,
A urze, a flores mortas
A pêlo de animais.
Dei a minha leitura ao escritor
E ele fez literatura e não livro,
De fantasma a anjo,
E depois tudo ficou xiqueiro
Porque era aí que me sentia bem
Não por temporadas
Mas para sempre!
Onde estão os novos?
Os autores e os outros!
A vida e a pigmentação
As horas e as saudades.
Não deixar morrer os autores
A literatura não são histórias.
É uma onda que vai subindo
Um crescendo em forma de lua
Uma batida contínua
Um arrepiar
Uma boca que se abre
Um grito
Um som de cascata a desabar
E na espuma que se asperge
Serpentinas de mil cores
Pétalas, rosas, flores,
Um batuque pauliteiro
Um fustigar
E quando todas as coisas se unem
Meu amor
Assim ficamos em festa
Em explosão, em fogo de artificios
Consumados.
Em êxtase.
Texto escrito após audição do tema "road house blues" dos Doors, cantado por Miley Sirus, com um grupo de músicos excelentes.
Alta noite
Acordo cheio de frio
Sonhando
O que já não sei contar
Em nenhum pormenor
Apenas me lembro
De pensar em ti.
Talvez, também,
Naquele mesmo instante
Tivesses acordado
E destapado o corpo
De cobertas e lençóis
Por causa do calor
E...
Tivesses pensado em mim.
Talvez!
Se dúvidas houvesse
O que faria? Nada!
Ficava na dúvida.
Há dúvidas que não são
Para serem esclarecidas.
São dúvidas de circunstãncia,
Dúvidas de amor,
Dúvidas que também podem ser
Dividas, ou divididas.
Na dúvida eu escrevo ao banco
E anulo tudo.
Na dúvida vou à igreja e pergunto
Deus, tu existes?
Na dúvida aguardo os meses da gestação
E aceito que se não fui eu,
Alguem foi!
A menos que seja natal e aí pode ter sido
Coisa e tal, embora já tudo tenha sido explicado
Que não foi assim.
Ainda não havia, algoritmos na época
E os mágicos não tinham televisão.
(aliás, eles só aparecem lá para janeiro)
Tenho dúvidas que acerte
Tenho dúvidas que aperte
Tenho dúvidas que ganhe
O jogo há-de continuar sempre
Até ao infinito.
Onde o vencedor persistente
Terá duvidas
E será morto pelos que têm certezas.
É uma duvida que eu tenho
Mas, pelo não e pelo sim,
Tenho a certeza de ter duvidas.
Preciso desabafar
Fazer confissão.
Olhar-me no espelho
E dizer que te amo.
Preciso de me encontrar
Encontrar-te
Procurando-te
Encontrar-me
Buscando-me.
Tudo acontece
No tempo certo
E ao ritmo do ciclo
Que não entendemos,
De que não somos
Sobreviventes.
Escrevo
Cristalizando
No mar que pangeia
A minha solidao
O eterno fumo
Do que sou
Ou fui
Na relação invisivel
Que nos une
E nos alimenta.
O amor é uma coisa louca
Que não existe
Há semelhança de outras
Coisas loucas
Que não existem
Mas que nos fazem... (a nós)... existir.
Entardece, entrenece,
Entre! se faz favor.
Vou ali buscar uma cadeira,
Fique à vontade...
Entremezes, fazemos a consoada
A Lisboa, cidade, enamorada
Ou onde os amores se cantam:
Mondego de Inês
(que frio deveria ser aquele palácio
O mosteiro, o castelo o choupal)
Ou as ruas estreitas de mira-gaia
Pois não existe um mira-porto.
Apenas a Foz onde desagua o douro
O vinho rabelo,
Figueira, mais abaixo, onde se mira,
A praia, de toda a beira
Fronteira.
Se enternece outra ó de mira
Já a sul, e mira anda a norte, adentro
E em encantamento se busca
Mira Douro, que pode ser em qualquer lugar
Xisto, rocha, ilha atlantica
Mira Espanha e mira mouros, miramortos
Em Moçambique. mas...
Faça favor de dizer,
Sem adivinhas, ao que vens?
-buscar amor,
- desculpa?! Não entendi!
São coisas minhas!
- minhas, também!
Vermelha.
Gosto de ti todo o ano
E quando te vestes de natal
Fico deslumbrado
Porque as tuas cores me iluminam
Frágil, carente e elegante
Recebes carícias e beijos
Quando te sento nos meus joelhos
E peço um desejo.
Sim, és uma flor
O meu amor.
E todo o ano gosto dos tons
Verdes, alaranjados, vermelhos,
Roxos e amarelados
Com que decoras a janela
Que trago no peito.
Gosto de ti, por causa, dela!
Da chuva, da luz, da floresta
E a recordação de um sorriso
Um beijo, um toque de nada
Uma pétala que me incendeia
E torna feliz, ao ver teu rosto
Nós revérboros da lua.
O meu amor,
Nunca morrerá.
O dia tapa-se de negro
E a chuva faz cortina
Espessa como nevoeiro
Tudo Ocultando.
Um frio de inverno
Anda à solta de parceria
Com chapéus, luvas, gorros
E outros agasalhos.
Há humidade nos ossos!
E as luzes tornam-se manchas
E sinais de alerta, vida ou perigo
Mas ruas molhadas
Em prédios cujas janelas se fecham
E no fugir acelerado dos carros
Dos transportes, barcos e comboios
Em pendulares idas e vindas
Até que todos os passageiros
Se esgotem.
Mas estes, os passageiros,
Continuam sempre.
Noite fora, até serem renovados
Com novos utentes
Pessoal das limpezas,
Novos emergentes que chegam.
Outros que regressam da folia
Mas, a noite, a luz, o escuro
A chuva e a humidade e a mesma.
Não há vento.
Valha-nos isso!
Apenas um restolho de claridade
Assoma de um dos lados da cidade
E o negro fica cinza, quase branco,
Depois torna-se cal e amanhece.
Não tem nada de novo, para dar.
É sempre o eterno amor
A cavalgar, a batalhar,
Por vezes, a atrapalhar.
Passemos às acções seguintes
Ao tiroteio, à violência caseira,
À falta de dinheiro.
O amor que se transfega
Será sempre amor
Até porque o ideal é vender
Comprar e consumir
Como se não houvesse depois
E agora, o mundo fosse acabar
Outra vez!
Os olhos sobressaem
Por cima da máscara.
E uma nova era de pinturas,
Riscos, desenhos, sombras
E sugestões alastram
Sobrancelhas, pestanas,
Ponte entre o nariz.
A cor reflete-se como águas
Que se revoltam, seduzem
E chamam por mares
Correndo desenfreadas por entre fragas
Estreitos sucalcos ou vertiginosos
Caudais de chuva no inverno.
Os olhos dardejam e explodem
Como lume, em labaredas de incontida
Permissividade que transborda
Da nesga que os aprisionam.
Os olhos.os olhos. Os olhos.
Eu sei que são diospiros de mel
Os teus olhos de inverno.
São os teu braços que me acolhem
No doce calor da tua cabeça encostada à minha
Os dedos das mãos que se entrelaçam
O meu respirar tão próximo do teu.
Num afago roço-te pela cintura
E peço-te beijos.
Despes a camisola e lambo os teus peitos nus
Afastas os joelhos para que possa possuir-te
O vizinho, do lado de fora, em frente, espreita-nos.
Ignoramos que nos excita sermos espiados
E fodemos com as janelas abertas
Para que o vizinho se satisfaça olhando para nós!
Meto a minha mão em ti.
Acenas com o meu falo ao vizinho
E eu mostro-lhe o teu rabo
Onde uma lingerie cinza tapa
Os teus anais sonhados
Esperando que o exibicionismo
Possa ser apreciado e imaginado.
Olhamos disfarçadamente para a janela
Onde o ignorado vizinho se encontra
E (com as bocas unidas) vimo-nos
Como represa perfurada e erupção
Desfraldada!
Os meus links