Esta noite
Choveram plasticos
Na minha rua.
Os canteiros estão cheios de lixo
De papéis, garrafas velhas
E dejectos de cão.
Foi uma noite terrível.
Agora, que amanheceu..
Há um cheiro a ovos
A omolete a ácidos pútridos
A vermes
A legumes e mamiferos
Em decomposição.
São os restos da festa de ontem.
Frutas fermentadas ensopam
As vísceras que em serpentina
Repousam em estilhaços
Nos intersticios do fogo-de-artificio
Que se extinguiu logo que a noite
Deu por finda a sua respiração.
Os sulfuretos do estertor
Ainda borbulham e eclodem
Como rosas radioactivas.
Lá longe,
A erva cresce alimentando-se
De ácidos
Os resineiros espetam seringas
Para as árvores cresceram
Nas veias roxas das raízes
que calcinadas ainda sobrevivem
Como regatos de urina.
Esta noite
choveram plásticos
e balões
E o chão ficou esburacado.
*
Quem me disse foi o senhor João
Que não é santo nenhum
Se calhar, até foi ele que ateou o fogo
Que carbonizou a humanidade.
Uma desgraça assim, não nasce e se faz
Sozinha.
sim, vocês são culpados!
Sim, nós somos todos,
culpados!
*
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