ESTRADA fora, lembrando-me das saias das raparigas
E o bom que era eu com elas. Dancemos! Dancemos!
Agora há uma montanha. Depois não há montanha.
Agora, volta a haver. (Donovan, anos 70)
Escurece e tudo fica mais luminoso, que o sol acende
Nostalgias. Olho o verde garrafa da vegetação. Um
Incêndio, chama por mim, no céu do poente. Amor!
Bebo café, danço ao sabor de uma chuva miudinha que
Nada fazia prever. Ouço na rádio a notícia do meu
Desaparecimento. Ninguém me procura. Fujo, bebo e
Desisto. O pai, sempre o pai, espera-me. Despeço-me
De ti: Mãe! Há uma montanha. Depois não há montanha
Agora volta a haver. De novo. Agora há….. ( coro)
O tempo morre e ressuscita. Primeiro há uma montanha
Lisboa (outubro 2016)
CARLOS Arinto nasceu em Linhares, Celavisa, Arganil. Atualmente vive na Amadora. Diz que escrever é assim “a modos que” ir teclando deixando o espírito correr. Colocar em palavras cirúrgicas vagas ideias e criar imagens cristalizadas em palavras. No entanto, não se considera “escritor”, nem “poeta”, apesar da obra publicada. Associa o Porto a um gigante em ninho pequeno como expressão de um alcantilado formigueiro de nacionalismo. Sobre a literatura postal (será um género literário em criação?) define-o como sendo estética e arte que se desloca: corpo e alma em voo.
Por Paulo Moreira Lopes
1 – Data de nascimento e naturalidade (freguesia e concelho)?
12.09.1951 Linhares, Celavisa, Arganil.
2 – Atual residência (freguesia e concelho)?
Amadora, Lisboa.
3 – Em que outros locais viveu de modo permanente?
Nenhum outro.
4 – Habilitações literárias?
Frequência universitária, no grau de bacharelato.
5 – Atividade profissional?
Consultor.
6 – Em que medida o local onde nasceu e viveu ou vive, influenciou ou influencia a sua vida artística?
O local de nascimento influenciou como raiz de memória. É uma ligação geracional, embora não de vivência. Influencia pela capacidade em determinar um caracter e uma dinastia com especificidade e empatia na forma de abordar a cultura, por vezes com determinismo geográfico.
7 – Quando pensa na cidade e na região do Porto lembra-se imediatamente de quê?
Do mundo. Sempre associei o Porto ao que resta do mundo imenso que nos rodeia. Pelo desusado do contraste com Lisboa, pelo virtuosismo do núcleo cerrado, da sua cor, da sua afabilidade e caricia das gentes. O Porto é um gigante em ninho pequeno como expressão de um alcantilado formigueiro de nacionalismo.
8 – Como vê o Porto nos dias de hoje?
Um universo.
Literatura postal
9 – Tem a mania dos postais?
Curiosidade. Um formato que faz a diferença.
10 – Sente mais prazer em comprar, escrever e enviar o postal, em saber que foi recebido por outro ou em receber postais de outros?
Comprar, escrever e enviar.
11 – Tendo em conta a popularidade da correspondência postal, será que podemos falar de uma literatura postal, quem sabe como uma derivação dos contos ou microcontos?
O conceito de literatura postal é curioso e interessante. Não possui autonomia, face aos restantes géneros literários, mas pode caminhar para essa independência, caso os autores se debrucem sobre a mesma e a alimentem com qualidade e substância. O que depende muito dos divulgadores, editores e estudiosos. Tem a vantagem de ser memória e fragmento físico. Estética e arte que se desloca: logo corpo e alma em voo.
Fotografia de Pedro Palma.
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