Chove.
Um diluvio de frio, vento e neve
Faz o inverno ser verdadeiro
Aqui, no meu país, em Janeiro
em Fevereiro.
A chuva diz-nos que a vida
É preocupação de infiltração
(Nas cidades.)
Benção, carinho, tesouro
Nos montes, nos campos
Onde ninguém se queixa
Quando chove.
Chove.
Porque se não houver água
Tudo morre
E a água não se fabrica.
Veja-se a imbecilidade
De querer viver sem água
Sem torneiras, canos
Esgotos ou caleiras e
Com um chapéu que guarda
O que ninguém aprisiona.
Sigo á procura de nevoeiros
De chãos, de verdes, de bichos
Poças, charcos, fontes,
Ribeiras, rios e depois os mares
E bebo a chuva de que sou feito.
Todos os dia, àquela hora,
O céu ficava escuro
E a réstea que sobrava no firmamento
Poderia ser já um despontar mágico
Para alguém nas antipodas.
Tudo arrefece. É das ciencias da natureza,
E as cidades iluminam-se
Na nocturna claridade florescente
Do dia que nunca morre e da luz que renasce
Em engenhos, de saberes experimentados
Por gerações de vidas incandescentes
O céu ganha riscos, névoas e cumus
Mas passados momentos tudo é breu
Já não distingo o que está para lá
Do boqueirão humido e fechado do tecto.
Todos os dias, aquela hora
Na mesma época do ano
O céu ficava escuro
Porque escura é a sua natureza
- Não tenhas medo do escuro, do negro e do preto
Olha o comboio, o carro electrico, o senhor distraido
Que regressa a casa, aquela mulher, além, que fuma
(todos os fumos são aqui consentidos)
- Não tenhas medo do negro, do preto e do escuro
O céu é parte de nós!
Repara como diferentes partes do céu
Nos descansam, nos extasiam, nos guardam.
Do céu vem a trovoada e a calma madrugada.
Fechado o ciclo da vida universal, regressamos
Ao leitoso e inseguro poalho da manhã
Nos telhados e nas chaminés das casas
Onde aprendemos - civilizadamente - a viver.
Hoje, tudo é fumo e virtual.
Não há convites por debaixo da porta
Nem na caixa do correio
Ninguém me chama á janela.
O que se podia saborear,
Mexer, provar, consolar,
Acabou!
Tudo é sonho, essência e nada.
Embora insistamos em pensar
Que existe algures
O sempre, o ontem e o antigo
E tudo pode ser invocado.
O mundo tornou-se etéreo
Numa efusão de enganos.
O que me resta além das memórias
Do pensamento e das recordações?
O presente é paisagem, montanhas,
Rios, pedras com musgo, pássaros
E nesta ilusão de que estamos vivos
Nos dissolvemos em nevoeiros
E em insanidades sem direção.
Todos os livros são turismo
Todo o turista é um curioso de nadas
E nessa pressa, nesse frenesim,
Restam silêncios e fragâncias
Que só os velhos sentem e saboreiam.
Afinal as religiões tinham razão.
O céu (e o condomínio onde Deus reside)
São virtuais. Tudo se faz e desfaz
No cair da chuva,
no beiral de uma nuvem.
Eu sou, o perpétuo movimento.
(e disso me orgulho)
Bom dia. Fevereiro.
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