Hoje não há barcos a cruzar o Tejo
As ondas chocalham e o vento pragueja
As pessoas ficam no cais sem saber o que fazer
Hoje não há barcos a cruzar o Tejo
O rio não se deixa rasgar e navegar
E quem é de lá, lá fica. Quem é de cá, não vai.
E também o contrário se invertermos o mapa.
Nada de nomes gregos, Neptuno e coisa e tal.
É mesmo a circunstancia que faz ser assim
A lua dirá o poeta. Qualquer fenómeno,
Contará o metereologista. A natureza dirá Deus.
Hoje não há barcos a cruzar o Tejo.
Hoje não há barcos a cruzar o Tejo.
Hoje o Tejo é um rio sem barcos.
Reuniu-se o grupo
se-cre-ta-mente.
Falou, debateu
Discutiu e votou.
No final, cada um
Fez o sinal combinado
Baixou os olhos
E perdeu-se na luz.
Ficaram as pedras
O altar, os galhos
Onde se sentaram,
E ao longe
O fuso da lua
Em espiral sugada
Ganhou flâmula
Cabala, significado,
Destino.
Se-cre-ta-mente
Os dias foram
E cada um foi
No que a vida
Determina, pela
Posição de todas
As estrelas,
E o que nelas
É possivel ler,
compreender
E aceitar
O futuro
Será passado.
Mas agora,
É hoje!
Sinto o cheiro das ondas. (sim, cheiram a altas montanhas,
A barcos afundados, a terríveis dores) e solto o berro da gaivota
- Breee!!! Breee!!! Bree!!! Bree!!! Bree!!! Bree!!! Bree!!!
O vento afia as garras na espumas dos novelos de água
Que chegam á costa, sem surfistas - lá dentro!
As nuvens vêm ver o que é e ficam baloiçando entre uma valsa
(frágil, ligeira, uma quase ampola de fragância e divergência)
E as pedras. São conchas, areias e medo. São aranhas do mar.
O hotel tem cinco estrela. É caro. O serviço esmerado.
O areal foi substituido por cortinas de velcro, que fazem passadeira
Entre o luxo comprado e o inferno da natureza zangada.
O borbulhante aquário da vida é uma falsidade encenada.
1.
Os Corpos rolam pelas pedras, em todas as ruas de Lisboa
Que pedras já não tem. Pedras antigas, descalças.
Num vão de escada, numa alçada, num ninho de águia peneireira
As pedras de Lisboa são sóis, fogueiras... ágapes de culto
Corpos que trazem chuva e orvalho à terra, e nela espigam
Florescendo e enchendo os campos de papoilas, rosas, cheiros,
Amando tudo o que respira no silêncio de um olhar, num sorriso
Na flauta de um amanhecer cantado, em água fresca e movimento.
Missa, procissão, entorna de queijo em dia de largada de borboletas
Pássaros e nuvens em torvelinho. Lenha queimada. Alvorada!
Quero-te comigo, mulher, deusa, relâmpago. Vigília de sal:
Um raio de sol que se torna chama, fruto, verdade e paraíso.
Um risco, no cetim dos orvalhos, um traço na ligeira brisa, faúlha
No amarelo dos plantios, cheios de rouxinóis e sapos e gargalhadas
No negrume verde dos azuis, em todos os canaviais, que são alma e fado
Chicote, vergasta , açoito. Morno delírio da sedução. Beijo!
Estendemos a mão à foice das palavras para dizer: serenidade!
No ocaso da génese e da gestação. Sempre madrugada e início.
Hoje o dia foi de sol
com alguns aguaceiros
- que banalidade!
Sim, as coisas banais
fazem parte da nossa vida.
O épico, o mito
e a coragem
Ficaram no passado
Que foi vida
E gloriosa vontade
de a todos ser:
A republica, a guerra
a revolução, a lágrima
Que foi dor e alegria
São tudo agora
banalidades, coisas
sem importãncia
Que morreram antes
Das cinzas de nós.
Hoje foi um dia de sol
Com algumas abertas
Com aguaceiros.
Começou,
A primavera!
Foi preciso a mãe adoecer
Para perceber
Que não havia vagas nos hospitais.
Foi preciso morrer
Para perceber
A indiferença e a solidão
Da vida, da escola, do casamento
Do emprego, da idade...
Foi preciso matar o sonho
Para entender que além fica o só
Onde nem medicina, nem ciencia
Religião ou boas-intenções
Contam! Ajudam! Existem!
Foi preciso a mãe morrer
Para perceber a orfandade!
A Mãe morreu, hoje!
Quero uma ideia
Que seja mais do que um pensamento
Quero uma ideia que seja
Esforço, consequência, já antes desejo
Quero uma ideia que seja capaz
De se alimentar sozinha e viver comigo
Em qualquer esquina do céu ou da rua
Onde possa morar eternamente.
Uma ideia com sentido
Razão, paixão, beleza
Uma ideia de algodão
Onde caiba o meu coração
Pode não ter sentido e ser apenas uma ideia
Mas é minha!
(Que importância tem? dirás! Nenhuma! Respondo)
É que o sentido que a vida tem é equivalente
A um delírio, a uma mentira, a um embuste matreiro
- como são todas as promessas e boas intenções -
Por isso tanto me faz. Quero uma ideia que não morra
Que me abrace e me dê paz, sempre, onde estiver
Num atrevimento de viajante por terras longínquas
Em ávidos enfeites e bêbadas palavras.
Uma ideia! Um Amor!
Tudo vai de empurrão, que nada permanece no mesmo sitio por muito tempo.
As águas correm levando pedras, terras, àrvores, vidas.
O universo regressa com suavidade
Num raio de luz, numa flor, num bater de asas
Suavemente,
Toda a vida se destroi, sem infinitos
E depois, em volteios tudo renasce
Como se nunca tivesse existido.
Eu vivo num quarto fechado onde a luz não entra. Nesse quarto durmo.
Como não pressinto a madrugada, a noite prolonga-se, e os mortos
Estão comigo, porque eles nunca vêm a luz do novo dia que começa.
(Os meus mortos são só meus, existem porque eu existo)
Celebrar a vida ou celebrar a morte é a mesma coisa!
E amanhã, sem águas em furia,
Depois de todos os renasceres anunciados
A terra secará e mais pessoas se extinguirão
E tudo voltará a ser como dantes.
Eu quero a vela e a caravela que voa no espaço
Em quilhas desfraldadas vou sem rumo
Porque de tudo o que me lembro, guardo o esquecimento
Alguém será um tempo... para nós!?!
Hoje a aula, foi sobre erotismo.
Confesso que não percebi nada.
Dizem-me que erotico é estar nu
Falar dos corpos e dos sentidos
Qualquer coisa que se aproxima...
Um adivinhar que encanta.
Será que queriam dizer sexo?
Não! Não! o erotismo não é sexual
É apenas um afloramento
Uma restrição que pode ser ...
Proibição condenatória
Algo interdito e escondido.
Imoral (importa-se de repetir?)
Como uma laranja aberta ao sol
Num dia de verão.
Que se come com a boca e a mão.
Pergunto!?
Na minha ingénua ignorância.
Senti que havia receio
Como se uma vela explodisse
(coisa que as velas nunca fazem)
E nessa coisa impossivel
Arrastasse para longe
O eterno, o sublime, o magnifico,
Consumindo sorrisos, águas,
Cores e luzes de todo o Universo!
Há uma gigantesca fenda
Algures entre galáxias
Onde a atração é voraz e tudo
Consome, porque é da sua
Natureza ser energia.
O erotismo é sedução
Na cidade fotografada
A aula versava o erotismo
Confesso que não percebi nada.
Não sou fotografo.
E depois de mim os que existirem
E porque de mim vieram e me conhecem
Farão a terra ser casamento, casa e vida
Recordando com o amor de sempre
Os que antes de nós foram e aqui viveram.
Protecção eterna - prometo!
Aos que regressam e nunca esquecem
Aos que povoam os meus sonhos
Aos que comigo se deitam e comigo,
Depois da noite, se erguem para o trabalho
Na luz da aurora até á luz do poente.
Embalo a esperança e a ilusão
De que aos filhos dou futuro e saudade
Vida melhor, liberdade!
Sou herdeiro de longuinquos passados
E numa mão aberta, num bater de asas,
Faço voar o pássaro que me tras o novo
E o igual desejo antigo. Tudo renasce!
Os meus links