Comparo a minha vida
A todas as vidas
E em todas encontro
Comparações qure são vidas
Iguais, diferentes
Unicas!
A minha vida não tem
Comparação
As outras vidas
Também não!
Por isso faço da vida
O que ela quiser ser
E onde a possa viver
Morrer! Morrer!
Mas primeiro,
Amar!
Sendo já tempo de primavera
O frio persiste em manter-se como um luar
Que depois da noite acabar, não interrompe
A sua permanência no nosso corpo.
Acordo bizarro, arrependido, com vontade
De ser outro.
Levanto-me com a surpresa do conhecido
E a angustia do que sou.
Recordo pessoas antigas, sempre outras
Algumas que nem conheço
Procuro desistir, adiar, deixar tudo para
Mais tarde.
Esqueço que continuo cá e me desgosto
Luto brevemente contra a saudade, o medo
A ausência, a solidão e o objectivo próximo
De não ter nada para fazer.
Olho ao redor - agora há um pouco de luz -
E encontro-me aqui.
Tudo me parece mentira. Acredito que sonhei
Deixo-me iludir.
Sou eu, outra vez!
Viajo pelas avenidas
do pensamento
Em cidades, vilas e aldeias
Em todos os cruzamentos.
Em estradas
Em encontros, em amores
Em todos os momentos, (furia e ódio)
Repousos, (desilusão, esperança)
Vicios e vontades.
numa esplanada
Onde se ouvem golfinhos
E onde cabe a saudade,
O ontem e a verdade.
(ficamos à conversa)
Quero mistérios e imaginar
Que serei lume, água fresca,
Sal, coirato e luz perpétua
No simples facto de estar
Já não aqui, mas além
Onde me vens buscar.
Liberto em azul o amanhã
Tropeço, esfolando uma canela,
(ando em calções, sei que pareço
Um espalhafato) Tropeço em livros
Espalhados pelos tetos do mundo
Quando deviam estar guardados
Dentro de muitos leitores.
Que culpa tenho eu?
Foi sorte não ter partido a cabeça
Ando sempre de pernas para o ar.
São livros antigos, estragados pela chuva
Roídos pelos vermes que não sabendo ler
Se perfumam com eles, devorando-os.
Por feliz acaso, não caio e não morro
Asfixiado pelos cereais que estão no celeiro,
Que o que alimenta, também mata.
Soterrado num monte de livros que desabam.
Feliz acaso - digo a sorrir - sabendo que o mal
Não é coisa contagiosa para quem ama o sol
A poesia e o momento em cada língua que faz
De todas as linguagens a vida e o alimento.
Há livros nativos, antigos. Outros novos a chegar
Livros que ainda não foram inventados, escritos
Lidos, decorados. Livros brancos e azuis com
Todos os pensamentos e aqueles que se hão-de
Ajuntar.
O importante é que existam livros
E que possamos neles navegar ou voar.
(Com a perna a sangrar, fecho os olhos
E num mergulho regresso á infância e ao tempo
Em que tudo era novo e colorido.
Ser feliz é ter memórias para contar!)
Faltam sempre alguns
Que não puderam vir
Ou porque se atrasaram
E por compromissos
Mais urgentes e graves
Faltaram!
Ou...porque sei lá...
Não leram a convocatória.
Faltam sempre alguns
E ficamos á espera
Que todos assinem a acta
Dizendo que concordam
Que discordam
Que estão solidários
Demissionários
E até conformados.
Alguns calados, sem opinião
Só consta do quorum
Os que cá estão.
Faltam sempre alguns
Para os anos fazerem sentido
Para se ter que fazer obras
Reparações, isolamentos
Transplantes.
Um reboco cirurgico
Um andaime para a locomoção.
Há sempre alguém que não vem
Que "já nos deixou"
Que nunca voltará
E que se recorda numa pausa
De uma assinatura
Coisa tão legitima
Como outra coisa qualquer.
Também há novos a chegar!
Bom dia.
O tempo está perfeito
Gosto de espreitar
Ver sem ser visto
Ficar aqui a esperar
Como um Deus
Sem ter nada para
Fazer ou dizer
Apenas espreitar
Bom dia.
Percorro campos de um verde absoluto.
Avisto outros: amarelos, roxos, vermelhos
Casas caiadas e brancos infinitos.
Entre o sol e as nuvens o restolhar
De pássaros alvoraçados (talvez
Incomodados) com a minha presença.
Cegonhas, Grous, pombos, bandos de
gaivotas (que o alentejo também é mar)
e águias, corujas, andorinhas
Em volteios ao redor da luz
Semeando nos céus gafittis, ninhos,
Àrvores, chaminés e vinhas...
Somos todos vizinhos.
Percorro os rostos, as mãos e os olhos
De quem trabalha, de quem trabalhou
E as histórias de vidas encontradas
Em portadas, em corrimão de pedras
A separar aloendros, em janelas e
Assentos de umbreiras em descanso
Em casas baixas de telhados vivos
vermelhos, encarnados fulgurantes
Como papoilas, colza ou cheiros
Onde tudo existe em cores que mudam
E onde me sinto verdadeiro.
Estou no alentejo!
Existem paixões tão absolutas
Como o desejo em manter uma horta
Dentro dos limites de uma cidade.
São paixões que os ancestrais deixaram
Num cromossoma enterrado em mim.
A fadiga não me cansa. Beijos e terra
Chuva e luar são flores para amar.
Existem paixões que me encantam
Que não sabendo dançar - danço!
Que não sabendo cantar - canto!
Que não sabendo rezar - rezo!
Sou cristalino na alegria serena
Do peregrino em transumancia.
Sou o pássaro, a razão, a lágrima
O suspiro e o vento que transporto
Em faúlha, porque nada é inteiro.
E na emoção do momento me dissipo
Em mil pedaços, levando para o sol
(na paixão dos dias felizes)
O etéreo, o sonho e os teus abraços.
Uns dias chove
Outros não!
Uns dias tenho frio
E tenho medo de adoecer
Mas logo o sol vem
Dizer ao meu corpo
Que está tudo bem.
Uns dias de calor
De repente granizo
Transpiro, falta o ar
Tenho medo de acordar
Quero morrer
Antes de me erguer
Mas tenho de ir
Trabalhar.
A minha biografia
Não acrescenta nada ao rumo
Do universo. Este, corre indiferente
A tudo o que sou, ignorando-me.
A minha biografia
São apenas palavras que escrevo
E possam sobreviver sem mim
Em ventos e fragmentos,
Nas areias do tempo
E na lembrança de alguns.
A minha biografia
Será o que disserem de mim.
O dia foi de saudade
Encontrei amor,
No fio de uma conversa
Num acaso.
Encontrei ternuras
E ilusões
Desgostos, loucuras
Encontrei
Perdendo-me
Aqui regresso
Buscando-me.
Tenho muito para contar
Mas calo-me.
Navego na saudade
Que é só minha.
Celebremos o dia.
Nada de euforia, apenas um olhar.
Celebremos o dia
Como o são todos os dias.
Uma vontade, um respirar.
O dia é uma preguiça
Um rochedo
Que temos de escalar
O dia tem sentido
Se o pudermos amar.
Celebremos a diferença
E a ilusão de plantar
Um arbusto, uma arvore
No jardim dos pensamentos
No oceano calmo dos
Momentos
Sejamos iguais,
Diferentes
Ou os mesmos
Na parecença
Dos dias.
Celebremos sem indiferença.
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