Nessa luz mais recente
Os pássaros voam
E na noite se orientam até á chegada.
O caminho
Cheio de cicatrizes e raizes infinitas
São cartografias que não sei ler
E neles, apenas, me estatelo,
Deixando-me, suavemente, escorregar.
Debico, que a fome é muita,
O que o restolhar oferece
Paramos na beira da estrada
E o céu tem cores que nunca vi.
Chego, onde me acoito,
Que chegar nunca é parar
Somente pausa para descansar.
As planuras, os rios, as serras
Flores e verduras
Pequenas aldeias
Cidades e cidades
O pensamento tudo alcança,
Que do corpo não precisa
Mas, Onde fica a ilusão
De que se vive, de que se abraça
De que se morre por uma paixão?
Ou um pouco de nada
Onde se fica?
Enquanto vão derrubando muros
Em casas antigas
Colocando novas palmeiras
Em substituição de outras que morreram
Tapando os jardins
Para lhes mexer na terra
( visto do alto)
Anda tudo num reboliço
Enquanto isso,
Os prados estão secos e as ervas
Descoloridas pelo sol impiedoso
Rasgam-se em saudades.
Onde anda o tempo
E os torrões de ferteis dunas
Que as minhas mãos construiram
Com amor e chuva
Com estrume de rebanhos
Com a ajuda do teu olhar?
Onde anda o que passou?
Corre-se agora a tras de uma incerteza
De uma fonte de água escondida
De uma cinzenta madrugada.
Como tenho saudades
De uma cinzenta madrugada
Que tudo prometia ameaçando nada
E depois rebentava em calor, em braseiro
Em febre alta e em tempestade.
Como tenho saudades
Da porta emperrada, que não abre.
Da janela caduca com portadas
Do vento que me vinha abraçar
Como tenho saudades
De uma picada de abelha
De um tropeçar nas pedras
Que o mato esconde
Dos mosquitos carrascos
Que sangram meus braços
De uma noite
(em que os extraterrestes eram para
vir comigo ter...mas faltaram)
Cheia de luar.
Sinto a falta!
E assim fico, sem nada.
Acredito que o mundo possa começar todos os dias
De novo. De manhã. Ou talvez um pouco mais tarde
Quando lhe apetece, quando quer, quando é possivel
Começa quando começa, porque quando damos por ele
Já lá vai a correr, volteando como uma criança, fugindo
Olhando para tràs, sorrindo e galhofando de contente
E nós - que por cá andamos à procura dele - vamos tentar
Dar-lhe a nossa mão, estender-lhe o nosso braço, cuidar
Que cuidamos dele, mas ele voa e não se deixa apanhar
Acredito que o mundo possa começar todos os dias
Eu fui descobrindo, descobrindo, descobrindo
E o mundo apareceu numa trégua que se fez labareda
E assim viveu. O mundo nunca envelhece, é mundo
Dizem que enquanto viver...é meu!
Lisboa tem cintura fina
É menina deitada
Uma luz que se levanta
Uma água que levita
Ainda a manhã perguiça
Um jardim que se rega.
Os carros correm para a cidade
Onde os turistas bebem
Cafés, torradas e bolos.
Que tolos!
Lisboa volta a ser do viajante
Que alfacinhas não há.
Bares, discotecas e lojas
Restaurantes, monumentos
Toda a quinquilharia pobre
Do turismo e do desperdicio
De uma cidade saqueada
Pelos invadores convidados
É Lisboa que se refastela
Numa loucura de amantes.
Tudo se paga.
Lisboa não se dá.
Vende o chão, a alma,
O passado.
Não haverá raiva
Que sempre dure
Nem amor
Que não se acabe.
Lisboa ficará.
O mundo é o que existe á volta
E eu? onde estou?
Todas as perguntas podem ter resposta
Mas eu não sei quem sou!
O galope era imenso
O barulho um ribombar
De onde vinha tanto medo?
Fujo acossado
Escondo a cara
Esbracejo assustado
Quero morrer
Uma luz esfarela o ruido
Mil estrelas
Pulverizam o céu
O meu medo
Transforma-se em nuvem.
Na troada
Que desaparece
Fica o silêncio
E o lugar
O chão de um mar
O espelho
Da água
O navegar.
Sinto
Que não existo
Sou apenas
espaço
Apenas luar!
Ando por serras e arvoredos queimados
Onde casas mortas são cemitérios na paisagem.
Gente que tudo perdeu: ovelhas, cabras, hortas...
E onde rebentos de fetos e eucaliptos
Verdejam entre paus ardidos e pedras soltas.
As fluviais vão remendando as águas
As festas de verão entulhem as praças,
Os cafés, as Igrejas e os sitios benignos
Que os diabos não têm sitio, aqui.
(a romaria é uma tradição)
Há casamentos. Divórcios. Largadas de touros
Há praias e mar e areias, farturas e filhós
Canções brejeiras, amores e bebedeiras.
A vida nasce num braseiro de faúlhas
O vento dá-lhe e revira as voltas
Aos velhos resta a quietude
E quem os vir - assim - quietos
não sabe que o inferno e a dor são solidão
Que não acaba,
Onde tudo começa e morre, aqui.
(Lá na emigração, onde nada acontece
Apenas o dinheiro entontece)
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