Pequenas opiniões sobre quase tudo que servirão para quase nada
Sábado, 29 de Setembro de 2018
os lugares do passado

Regresso a um passado

Qure não tem regresso

É apenas passado.

Ainda existem sobreviventes

É verdade.

Mas, nem esses testemunham

Que o passado foi um tempo

De rebeldia, de vitalidade

E de bulhas constantes.

Um passado de vida e pujança

De vinho bebido na taberna

De namoros, festas e procissões

E trabalho feito a musculo.

 

Regresso a um passado 

Que futuro há-de ter outro

Talvez amanhã grito

De vidas renovadas

De repouso escondido

E glórias celebradas.

 

Toda a aldeia é um passado

Que hoje é diferente

E o passado fica longe

Cada vez mais longe

Do sitio para onde hoje

Se faz o presente.

 



carlos arinto maremoto às 08:36
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Sexta-feira, 28 de Setembro de 2018
Mentiras

As mentiras que eu escrevo

Fazem alguém acreditar?

Digo que estou triste e fico alegre

Diga que tenho saudades e amores

E é tudo mais uma mentira

Pois, a vida não é poesia

Mas cruel ousadia de viver.

As mentiras que escrevo

Iludem os mais corajosos

Derrotam os aventureiros

E até eu fico convencido

De que sou guerreiro e estrela polar.

 

Com mentiras me alimento

E esqueço que a mentira

pode ser verdadeira

Quando minto por brincadeira.

 



carlos arinto maremoto às 18:28
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Segunda-feira, 24 de Setembro de 2018
outono

E o tempo fez-se escuro e vieram as chuvas

As nuvens e algum frio, nada desagradável

Ainda, antes equinócio de abraços e promessas

De mil ternuras, num beijo ao luar.

Fomos erguendo os nossos corpos ao vento

E todo o momento de saudade chegou até mim

Porque se disse: hoje acabou o verão!

 

Colho um cheiro no aroma da tarde

Cada ano um novo recomeço

Cada ano uma desigualdade

Um adeus! Folheio o tempo que passa

E numa luz que se dobra em véus

Fico àrvore desencantada e nua

Resistindo ao outono que passa.



carlos arinto maremoto às 17:31
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Sexta-feira, 21 de Setembro de 2018
Não procuro nada

Não procuro nada e tudo chega até mim.

(naquela forma leve

                               que o mar ter de se aproximar

Das pessoas, nos dias de verão

Suave, devagar lambendo-nos os dedos dos pés,

Agitando a cauda, 

Como um cachorro de companhia

Ou os esboaçantes cabelos de um amor ausente) 

 

 

Sigo um caminho que se basta, sem busca

Sem ambição, procurando ser apenas poeira

No turbilhão da tempestade, no vento que mistura

Sal, sentimentos, luzes, mentiras e verdades.

 

Desisti de procurar, porque o que queria não existe

desisti.

O que queria não era possivel em palavras.

 

Todos temos no passado os segredos do infinito.

Nos sonhos, a inconsciência do que somos.

 

Eu não sou todos, ou outro ou alguém

Mais além. Apenas

A ambição de ficar

Não existe,

porque nada fica.

(tudo vai com a vaza mar

Em retorno. Em reversão.

Sem audácia. Apenas

Porque é um costume antigo

Deixar-se engolir pelo mar)

 

Não procuro nada.



carlos arinto maremoto às 08:52
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Quarta-feira, 19 de Setembro de 2018
deflagração

Ouvi um barulho

Algo a estilhaçar-se

Um tombo, 

Um chapinhar

 

Rebentamento

 

Fui eu

Que disparei

Sim, fui eu

Que parei

Para

 

respirar!

 

(No suave momento da vida

Em que se respira e vive

Há dias perfeitos. Sou parte

Dessa implosão.)

 

 



carlos arinto maremoto às 12:31
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Segunda-feira, 17 de Setembro de 2018
a máquina da inversão

o programa, devidamente esculpido

Pelo técnico de serviço

Elaborou o poema, ordenando as palavras

Numa sequência de efeitos

Para um arranho oral e de leitura.

 

(ou outra coisa qualquer, tanto faz,

Diz-se que é materia criativa, construção

Sintese ou figuração, enfim, poema)

 

O computador não sabe o que é isso de leitura

Por mais que o seu programador lho explique

Mas sabe adicionar, juntando e disciplinando

As palavras e o seu sequencial previsivel efeito

 

Na projecção dos arabescos, feitos palavras,

Frases, pequenas virgulas e acentos, riscos,

Traços e elegantes caracteres do alfabeto

(deste ou doutro, consoante a convenção)

São retirados os andaime e descoberta a arte

Presumivelmente bela, erudita e sensivel.

 

Sem biografia, sem verdade.

O leitor deixa-se enganar pelas emoções.

Afinal é ele, leitor, (todo) o poema!

 

 



carlos arinto maremoto às 08:33
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Sábado, 15 de Setembro de 2018
o enigma

Encontro-te sempre só.

Quem és tu?

Vejo-te sempre numa luz transparente.

E parecendo ausente, sei que sentes

Que o mundo te abraça e beija

Como nenhum outro mundo faz.

Mas, olhando em volta

Encontro-te sempre só.

 

Quem és?!

Mulher-pássaro e poeira do mar

Batizo-te na incerteza

Que as flores, de que não sei o nome

Me oferecem beleza e paz

 

 



carlos arinto maremoto às 08:47
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Sexta-feira, 14 de Setembro de 2018
contar os dias

Os dias regressam todos os dias.

Como um eco, uma tempestade

Ou um raio de sol

Na metereologia da sua transparência

Na conflituosidade da sua inocência.

 

Iguais ou diferentes.

Os dias são:

 

Banais, tragicos, ousados

Apaixonados, cretinos, amorosos

Feitos do sabor das ondas

De todos os mares e sonhos

E altas montanhas de escarpas

Bicudas com neves e céus

Rochas, lamas, bichos,árvores

Aflições, dores 

 

Os dias têm céus.

(disse, repito, confirmo)

 

Os dias regressam todos os dias

Porque não se tinham ido embora

Mentem-nos ao esconder-se

Foram ali e já cá estão outra vez

São negaça, trapaça, dia a dia

Flor, guarda-chuva, gira-sol

 

Os dias estão sempre aqui.

Mesmo quando a noite invisivel

Os adormece.



carlos arinto maremoto às 08:20
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Segunda-feira, 10 de Setembro de 2018
Distância

Levanto os meus braços numa despedida

Sou eu que parto, acenando

Ou são os que ficam que se despedem?

 

Apenas nos separamos por breves instantes

Todo o adeus é uma saudade

Mas o tempo dos instantes vai passando

E ficamos cada vez mais longe

 

O longe é afinal uma lei do universo

A ilusão do perto é a ilusão do segredo

Que por não se saber o que é

(por isso é segredo)

Nos faz sonhar que possa ser tudo aquilo

Que queremos que o sonho seja.

 

A distancia e a separação é tudo

Quanto me resta na memória dos dias

Felizes. O amor é um tempo de guerra

Que morre na paz das inutilidades.

 



carlos arinto maremoto às 09:02
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Sábado, 8 de Setembro de 2018
A prescrição

*

Primeiro dia. Hoje cometi uma ilegalidade.(ou terá sido um ilícito?)

 

Vinte anos depois. A memória persiste em recordar-me coisas do passado. Seria preferível esquecer, mas factos e momentos continuam a assaltar-me a imaginação e a memória. Já nem sei se tudo é verdade ou apenas parcelarmente a verdade existe, sendo a outra parte fruto de delírios febris ou convulsões de quem se desligou do mundo e da realidade.

Claro que me faltam as forças para encarar a vida.

Concluo que “eles” acabaram por chegar e me levaram. Não foi tão mau como imaginava e nem sofri muito. Quiseram-me culpar, como é costume, nos costumes da vida em grupo, mas resisti. O processo foi arquivado. Mal, como é costume, mas o “sistema” funcionou. Tudo se resumiu a acusações, coimas, dividas, juros, ameaças, mais ameaças e tentativas de coação. Injunção e palavras de cassetete. Fiz como alguns isópodes, enrolei-me sobre mim próprio e deixei andar. Como diria o Fernando Pessoa: “não sou nada, nunca serei nada, não posso querer ser nada”  por isso…recuso-me a alimentar a voracidade dos esquadrões de advogados, policias, juízes, carcereiros e agentes de solicitação. Sei que sou culpado! Quem o não é?

Continuo a “ ter em mim, todos os sonhos do mundo”.

 

Agora: prescreveu!

(enxerto de um conto com o titulo "Cul-de-sac"



carlos arinto maremoto às 16:44
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Quinta-feira, 6 de Setembro de 2018
réstea de cebolas

 

Drama que incendeia

a lágrima fácil.

Nada como a emoção

Que começa do zero

 

Começa e acaba.

Lá, onde os afetos

Entrelaçados

Em equivocos

Morrem.

 

Todos os destroços 

São noticia

Especulação

Carpidação.

 

Tudo segue enxuto.

Abracemo-nos,

Camarada.



carlos arinto maremoto às 17:26
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Quarta-feira, 5 de Setembro de 2018
ler

Sento-me a ler um livro 

É um fim de tarde, já tarde

E tu perguntas-me se estou a descansar.

 

Sim, estou.

A ler um livro.

(Ler um livro

É descansar.)

 

Sorriu,

Porque leio livros

Que ainda não foram escritos

São (ainda)

Não-livros

Páginas em branco

Apenas resmas vituais

(sei lá se de papel

Ou outra coisa qualquer)

 

Sento-me com o objecto que tenho

Em frente, para me ocultar do mundo.

 

Espreito por de tras das estrelas

E na tolice dos dias vou descobrindo

Que a vida está diferente. Um livro

É um agasalho que me analgesia.

 

Leio que os livros foram inventados há muito

E quem os leu nada aprendeu 

Repousaram os leitores na ilusão do saber

Como pensar que ócio é não pensar

 

Ou pensar que ler é desistir de aprender

(Ninguém ensina nada a ninguém)

Disse.

 

 

 



carlos arinto maremoto às 18:14
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Terça-feira, 4 de Setembro de 2018
O mar

A minha avó nunca tinha visto o mar.

Como é que o imaginas? - perguntava-lhe

(eu que desde pequeno vivia junto á agua

Às ondas, ao cheiro e ao sabor dos mares)

- O que pensas quando te falo no mar?

Não sei se a minha avó me respondia

- Já passou tanto tempo -

Mas para mim era um rio largo e grande

Infinito (o que é isso de infinito?) 

Onde nadava com amigos da juventude

Uma poça imensa onde Deus

Regava as couves, os nabos, as nabiças

Na sua horta celestial.

Havia milho e farinha e pão...

Claro que era precisa muita água. Afinal

Deus cuidava da humanidade...

A minha avó sorria, penteava os cabelos

E dizia-me: Está bem! Está bem, meu querido!

Foi assim que descobri o mar.

 

Um dia fui com a minha avó ver o mar

E de nada mais me lembro

A minha avó deixou - subitamente - 

De aparecer nas fotografias.

 

Há sempre uma idade para amar

Com mais força,  com amor.



carlos arinto maremoto às 12:27
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Domingo, 2 de Setembro de 2018
setembro

Chegou o mês dos anos e das saudades

Setembro.

 

Porque foi em Setembro que nasci

E de todas as formas me encontrei

E em mil maneiras morri sem o saber

Em todos os dias no tempo que passa

 

Banal. A minha vida banal

Mas queria o quê?

Ser heroi, deus eterno como o sol

Louco como a chuva, o frio ou a terra

Que sempre arranjam maneira

De serem mais fortes do que eu?

 

Queria ser esteiro

Onde meus filhos crescessem

Queria ser primeiro

Onde a luz se tornasse farol

Queria ser

Sentimento e memória

Queria ser

O mar eriçado, violento e cruel

Queria ser

Amor verdadeiro, vento, sal

Diferente...

 

Mas nada fui

E em tudo me consumi.

 

(sem gloria nem prazer

Apenas porque é dos actos

gastar-se a vida em aparatos

e coisas mesquinhas)

 

Setembro.

Uma vez mais em setembro.

Ainda.

 

 



carlos arinto maremoto às 09:39
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