A minha avó nunca tinha visto o mar.
Como é que o imaginas? - perguntava-lhe
(eu que desde pequeno vivia junto á agua
Às ondas, ao cheiro e ao sabor dos mares)
- O que pensas quando te falo no mar?
Não sei se a minha avó me respondia
- Já passou tanto tempo -
Mas para mim era um rio largo e grande
Infinito (o que é isso de infinito?)
Onde nadava com amigos da juventude
Uma poça imensa onde Deus
Regava as couves, os nabos, as nabiças
Na sua horta celestial.
Havia milho e farinha e pão...
Claro que era precisa muita água. Afinal
Deus cuidava da humanidade...
A minha avó sorria, penteava os cabelos
E dizia-me: Está bem! Está bem, meu querido!
Foi assim que descobri o mar.
Um dia fui com a minha avó ver o mar
E de nada mais me lembro
A minha avó deixou - subitamente -
De aparecer nas fotografias.
Há sempre uma idade para amar
Com mais força, com amor.
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