A luz chegou
Refletindo-se nas vidraças da tua janela.
Ao longe
Avisto a torre da Igreja
O sotão, onde repousam os nossos baús
E a chaminé da antiga fábrica,
Hoje abandonada.
(sento-me num degrau da escada que leva ao céu
Pedra cheia de musgo que ali está a fazer de amparo)
Não sei se é sol, apenas luz
Ou outra coisa qualquer o que vejo, como
Um espelho que devolve alegria, serenidade
Cheiros e recordações.
(um revérboro do passado, um buraco
Na fuga do tempo, um rasgão na saudade
Fissura de gente que se mostra como era)
Lá, tal como aqui, onde o frio e a saudade
se desfazem em névoas, em geada, em lume
Em desejo, ( mas)
A ilusão passa e os planetas voltam a estar
Alinhados
Se eu acreditasse
Se eu soubesse rezar
Se eu fosse quem não sou
Se eu quisesse
Minto para me sentir luz
E a luz mente para me enganar.
Tudo tem tormentos, inquietações
Ou não fossemos soldados, vigilantes
Riscos, relampagos, fissuras
No susto e na diferença, na margem
De uma virgula, em um fugaz repouso...
Tudo tem de ser coragem e vontade
Num repente tudo muda e se transforma
O que era, foi.
O amanhã não tem solução
Porque ainda não existe.
A Terra, planeta assim chamado pelos usuários
Modifica-se e percebemos que nos modificamos
Quando somos pedra, planta, flor ou pássaro
Ribeira, enxurrada e faisca. Quando somos verde-escuro
Incendio e nuvem na madrugada. O tempo aí vem!
E tudo fica diferente, outro ou igual. Não sabemos!
Transferi meus sonhos
Matei a beleza de ser jovem
Sou ladrão de mim.
E agora?
Onde me sento para receber a tua benção?
Minha mãe!
Os salteadores andam nas serras
Contavas-me quando eu era criança
E roubam os viajantes. Matam e fogem!
Querem comida, sangue e justiça
Dizias...desculpando-os da sua culpa.
Que outros culpa tinham.
O meu avô foi á guerra e lá morreu.
A guerra tudo roubou ao mundo
E a saudade ficou.
Eu também guerreiro fui
Numa outra guerra - é verdade!
Numa terra que desconhecia
E, talvez por sorte,
não morri.
Somando todos os crimes
Fica o mundo vazio
Que o dinheiro
É coisa antiga,
da Biblia
E das traições,
dos que roubam
E se matam, matando.
Os ladrões e os sentimentos
São os mesmos.
Comida, sangue e justiça!
Casei. Contigo vivi.
E agora que morro
Sou feliz.
Há sempre um motivo.
Não é que eu tenha razão,
Mas há sempre um motivo.
Por isso
Declarou que
Foram diversas as razões
E os motivos
Foi tudo por motivos!
Tudo me parece obsoleto
estranho
Cansado de tantas palavras
E bravatas
E também dos jogos
E de todos os desfiles
Procissões militares
Paradas religiosas
E elogios, preces e maravilhas
Contos, luzes e sismos
Sem sono e sem fim
Na pele, no corpo, na alma
Na geografia de mim
Tudo me faz indiferença
E me nega vontade.
No sorteio da vida
Espero a loucura do desejo
Tudo o que volte a ser
Beijo, riso e consequência
Porque a diferença é estranha
Por ser nova diferente.
Os meus links