Pequenas opiniões sobre quase tudo que servirão para quase nada
Terça-feira, 26 de Novembro de 2019
Macaréu

Do mar, das areias, das algas e do sal

Que se embrulham e revoltam

Do livre sonhar com turbulências infinitas

Estalada de água, bofetada de encontrão

Choque de marés e de esperguiçar

Onde germinam violências e tumultos

Rio acima até mim, onde sou espuma, 

Salpico, cheiro, cor, poalha e nevoeiro.

 

Sou insolente e deselegante

Sou estrangeiro.

Sou o ultimo, sou o primeiro.

 

Gaivotas e dedos de cristal

Luzidias botas

Farois e vento norte

Moro neste apeadeiro.



carlos arinto maremoto às 16:27
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Domingo, 24 de Novembro de 2019
zunido

Tinha de se arranjar

Qualquer coisa

Que não ofendesse

(muito)

Então 

Chamaram-me poeta.

Eu não me importei,

Afinal, agora, 

Já era qualquer coisa!

 

E assim me despedi.

Adeus poeta!

Que os bons ventos

Te levem e tenhas saúde

Eu fico com a guitarra

Que era do meu pai,

Com as agulhas do tricot

Que eram da minha mãe

E o sorriso e a voz

Dos meus filhos

(que continuo a ver

e a ouvir, como sempre

como se fosse agora

a primeira vez)

Filhos,

Alvos de neve

Escuros de caruma

Doces como a alvorada

O silêncio e a trovoada.

 

Tinha de se arranjar

Qualquer coisa

que não ofendesse

Muito.

 

Encosto a minha cabeça ao teu ombro

E deixo-me ficar.

Sem noite, sem remédio, sem poesia.

Só eu, 

E este tempo frio, e

Este braseiro

que não me aquece os braços.

Só, na companhia dos que amo

Envolto em milhentas

Solidões, 

Encontro resistência

Para me sustentar

Alimentado pelo mundo.

 

A poesia pode ser verdade

Emergencia, vontade.

 

 



carlos arinto maremoto às 18:26
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Quinta-feira, 14 de Novembro de 2019
invisivel

Invisível é o sonho

E a silhueta dos que amam

Invisível porque existe

Para lá da vida

Em brumosos encontros

Em indelével fermentar

Em sussurro.

A brisa acaricia o mar

Quase não lhe tocando

Faz-se invisível

Para o contentar.

Aparece desaparecendo

E desaparecendo

Aparece. Está aqui!

Brinca, maroto

O invisível

Sendo caldo,

sobreposição

De camadas telúricas,

Pura energia fóssil

combustão.

 

O sopro não tem visibilidade

E os nossos olhos pouco enxergam

Tal como o pensamento

Que não pode ser acorrentado

Lá onde o nada se resolve

Em toda a matéria do universo.

 

Invisível é a vontade!

 

 



carlos arinto maremoto às 18:25
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Quarta-feira, 13 de Novembro de 2019
retorno a Babel

Depois de Babel

(muitos anos depois

retornamos a Babel)

Os homens sentam-se à mesma mesa

E falam sobre o desconhecido

O que não conhecem

E o que sentem.

Não precisam de se entender

Na forma da lingua,

No som, nas palavras,

No cortiço e na colmeia

Das suas origens

Conhecimentos -

diriamos: culturas -

Expressões, aldrabas

Miriades de encantamentos

Alfabetos, regras, regulamentos

Gramáticas.

Fazem-no pelo gesto

No olhar, no aperto das maõs,

No abraço

Também na luz dos olhos

Que chispam

Que faúlham,

No indefinido sentir

De que somos unos, iguais

Completos!

 

Somos!

E isso nos define.

 



carlos arinto maremoto às 17:05
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Terça-feira, 12 de Novembro de 2019
Coluna de Hércules

Mar de ondas em canhão

Vento de arriba e nortada

Frio, gelo,muito frio.

(embrulho as mãos nos bolsos do sobretudo)

Não sei se é chuva ou salpicos das ondas

(não sinto os pés, as pernas ou o nariz)

Olho a distancia e um nevoeiro maligno

Venda-me a vista e não descortino nada.

Sou pedra e musgo, estátua, padrão e sal

O mar é meu companheiro e namorado

Sim, o mar é solteiro. 

Quem me fustiga, testa a minha força

E eu resisto.

(Depois de uma noite mais violenta,

Um céu claro abre-se e a luz purifica-me

Dormimos um dia profundo, serenos

Nem o barulho das gaivotas nos incomodam

Somos passageiros da viagem que a terra

Rodando nos oferece)

Do alto da minha coluna de faroleiro

Saúdo a chama do tempo

Que vigia

Que orienta

Que conduz

Que nos alimenta

Seduzindo a trovoada da vida

Apaziguando o medo e o queixume.

Sou nazaré!

 

 

 

 



carlos arinto maremoto às 18:31
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Segunda-feira, 11 de Novembro de 2019
A mão que dá

Vejo caminhos, nas pontes que procuro

E vou neles até ti

Sei que somos estranhos e opostos em tudo

Mas acredito que podemos conversar.

Vejo caminhos em zigzag ou em rectas sem fim

Uns alcandonados em escarpas

Outros arrojando-se em vales profundos

Todos como serpentes, combinando-se

Para me dificultarem a caminhada.

Aqui um desabamento, um colapso atrasa-me

Ali um vento medonho empurra-me para trás.

As pontes têm duas margens: uma começa

Do lado de cá. A outra começa: Do lado de lá.

O que seria do meu caminho sem pontes?

Tudo começa no dia em que nascemos

E depois continua, continua, continua...

Até que somos nós,

E nos transformamos e modificamos 

                                                  como uma flor

Que continua a ser, como nós, quando já não

       a vemos, nem escutamos, mas sentimos

No entrelaço da vida, da procura e da resposta

Que sentido faz a mão que encontra?

Que sentido faz a mão que acarinha?

Que sentido faz a mão que afaga?

O sentido que a vida nos dá!



carlos arinto maremoto às 19:11
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MAREMOTO
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