Pequenas opiniões sobre quase tudo que servirão para quase nada
Sexta-feira, 31 de Janeiro de 2020
O cão e o gato

Eu tenho um cão, 

Que tem duas patas

Um focinho

E uma cauda, 

E que ladra

Como todos os cães 

Quando está sozinho

E sempre que quer. 

Quando me faz companhia

Dorme com um olho aberto

E de sentinela

Vigia as minhas emoções 

Com a precaução do amparo. 

 

Eu tenho um gato

Que tem duas patas

Um focinho 

E cauda também 

Que mia

E se esfrega nas minhas

Pernas

Saltando com olhos de nesga

Por gelosias de conivência. 

 

 

Cão e gato

Gato e cão, 

Estou sempre em boa companhia. 

 

Um olha-me

E quer ir para a rua passear

O outro ronrona-me

E quer que o deixe sossegar

(anda nos telhados sem autorização 

Assenha-se comigo

Quando o repreendo. 

É um felino de guarda! 

Que se atreva, o mais ousado, 

A fazer mal ao meu menino) 

 

O cão e o gato

Não sei porque me lembro do sapato

(que comeste tu hoje? 

Sopinhas de mel...) 

O gato e o cão 

São amigos e ternura dos ausentes. 

Presente encontrado

Por quem não tem namorado. 

 

 



carlos arinto maremoto às 13:16
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Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2020
Os velhos

Os velhos morrem com o frio. 

Caem, tropeçam, aleijam-se

Sofrem dores nos ossos e 

Queixam-se das articulações.

Os velhos vai congelando

Congelando, congelando, 

Até desaparecerem em nadas

E em coisas nenhumas. 

 

Os velhos contipam-se

Sofrem do nariz, da garganta, 

Não há mal que não lhes chegue

Não há cobertor que os aqueça.

 

Quero acabar com o inverno

E salvar os velhos

Colocá-los todos num jardim.

Porque é na memória dos velhos

Que o mundo não tem fim. 



carlos arinto maremoto às 13:18
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Inverno

Há neve, ali ao lado

E calor, aqui ao pé 

Já não há chuva

Apenas aguaceiros

E as noites de frio 

Cristal, gelo e geada

Estão estreladas. 

O inverno mudou. 

E nós, mutantes, mudamos

Com ele como se não dessemos

Por isso. 

Ficam os agasalhos

E os compostos usados

Nos combustiveis

Nos aquecimentos

Nos arrepios. 

Regressam as doencas

Que inoculam nesta estação 

Como juízes ou carrascos

Eliminando

Velhos e excrementos 

Fora de prazo. 

(tudo o que - decidem eles-

Está a mais!) 

A natureza é cruel! 

 



carlos arinto maremoto às 07:44
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Quarta-feira, 29 de Janeiro de 2020
O silêncio de nós

Tenho tantos silêncios para dizer

Que me custa ficar calado

É como se a importância de tudo

Deixasse de existir e no segredo

Das noites de arrefecimentos súbitos

Sentisse que quase tudo ficou por dizer

Quando falo, escrevo ou te amei.

O silêncio não tem cor

Nem é perfumado

Não tem forma nem tempo

É apenas uma presença que persiste

Uma solidão que nos acompanha

Um desconforto que se acomoda.

 

Há silêncios que nos ensurdessem

Há momentos em que nos apetece. 



carlos arinto maremoto às 02:25
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Terça-feira, 28 de Janeiro de 2020
Os Pólos no Equador (as alterações climáticas)

Basta agarrar no mundo com força, 

Rodá-lo, rodá-lo, até ele se vergar

Fixá-lo ali, e sem se mexer, obrigá-lo a ficar

Com os Pólos na linha do Equador. 

Faça tudo, devagar, com determinação, 

Com cuidado, não vá o mundo se esmagar, 

Com atrapalhos ou hesitação. 

Depois em disco, é só empurrar para que voe

Flutue e deixe de incomodar 

 

Sinto alívio, só de pensar!

O clima já melhorou? 



carlos arinto maremoto às 00:35
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Segunda-feira, 27 de Janeiro de 2020
Flutuação nocturna

Deitado

Sob uma toalha de prata

Em lençóis de luar

Leio as estrelas

Que me iluminam

Com as suas pétalas de luz

Imaginando-me náufrago

Numa dolina de seda. 

 

Sinto o corpo flutuar

Como se não tivesse peso

Sinto a vertigem do medo

E, Estendo os bracos

Agarro o nada

Que comigo navega, 

Baloiçando, 

Perdido na espuma

Da maresia, no repuxar

Das ondas, no arrepiar

Que o universo me pede

Para que o deseje e o ame

Fazendo-o meu, 

Nosso, inteiro, perpétuo 

Único, verdadeiro, 

Infinito. 

 

Sou aquele que não existe, 

Porque nada é tão perfeito. 

Sou aquele que gostaria de ser

Mas apenas no devaneio do sonho

Na fugaz passagem entre dois

Dormires, entre atrevimentos

E a ilusão do reflexo que o espelho

Me obriga a sentir

Encontro a dimensão do que não sou. 

 

A realidade volta breve. 

O corpo afunda-se

E volto a ser eu

Feito de sal e vento

Nos seixos da vida

E das praias enrugadas

Nas Areias, rochas, arribas

Açoites de mar

E madrugadas. 

 

 



carlos arinto maremoto às 23:36
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Sábado, 25 de Janeiro de 2020
Flash

Vou escrever algo curto

Rápido

De electrão.

Não tenho pachorra para mais. 

Algo que termine

Antes de começar, 

Que acabe já aqui. 

Também 

Ninguém vai ler.

Quando virem

Já passou e o que passa

Já não é! 



carlos arinto maremoto às 17:07
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Sexta-feira, 24 de Janeiro de 2020
Leitura da magia iniciática

Mergulhei no sangue do dragão

E a floresta riu-se de mim.

Nada me faria ficar jovem

Eterno, imutável. Nada!

Escorri todos os óleos sagrados

Pelo corpo, e na cabeça 

Nasceram-me pensamentos

Obtusos. 

Fui ungido e embalsamado

Ficou o quê de mim? 

Um qualquer pássaro sagrado

Voou indo pousar no dragoeiro. 

Disse-lhe adeus, acenando

Voltei-me, revirei-me, aconchegando-me

E fui sonhar para outro lado. 

 

Felizes os que sonham com a morte

O sonho do eterno é sempre um sonho

Adiado. 

O fim fora cancelado. 



carlos arinto maremoto às 11:25
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A monarquia que eu queria.

A monarquia que eu queria

Tem manias. 

Tem príncipes, princesas, 

Herdeiros e outros cangalheiros, 

Para além do rei e da rainha

Que são tutores

Militares, doutores,

Que vivem de favores

Acompanhantes, certidões 

Facilitadores, 

Sofrem com os amores

Entre caçadas e desgraças

Como só eles sabem ter. 

A monarquia que eu queria 

Não é esta. Nem a outra. 

Afinal não quero nenhuma

Que não tenha a humanidade

Primeiro,

E a humanidade depois.

Uma monarquia das pessoas.

 

A monarquia que eu queria

É a monarquia que eu quero. 



carlos arinto maremoto às 10:57
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Quinta-feira, 23 de Janeiro de 2020
Vulgata

É assim, 

"Prontos!" 

Acabou-se a discussão

Ainda antes de ter começado.

Quem não concordar

Vai preso, 

Arrastado e desgraçado

Que não há-de nunca

Ter perdão. 



carlos arinto maremoto às 12:36
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A lagarta da couve

Já vinha no prato

Ainda o prato estava vazio

A lagarta fugiu do frio

Para o meu colo

Deixou a horta 

E comigo à porta

Sentou-se à mesa

E comigo conversou. 

Era uma lagarta da couve

Que tinha fome:

Dividimos a sopa

O caldo verde o bacalhau. 

Depois eu fui marear

E a lagarta da couve

Descansar. 

 

Nunca mais nos encontrámos! 

 

Na vida real de todos os dias

Vejo-a na televisao

Em dias de petisco

Num programa de culinaria

E gastronomia

Com políticos e saltimbancos

Que assaltam bancos

Mastigando couves tenrinhas

E brócolos em segunda mão

Nabiças e outras hortaliças. 

(congelados, conservados,

pois claro, recomendados

Para dietas e outras mezinhas

Com couves ou com galinhas) 

 

São lagartas com ventosas

As rodas do meu trator

Por cima de pedras e calhaus

Na lama e no mais desabrigado

Piso seco ou piso molhado

Lá andam as lagartas 

Desenrascando os desenrascados

Em sementeiras e escareeiras

A gradar o verde, do repolho

O rebento novo da flor da couve. 

(que lagarta não é minhoca, 

Nem centopeia ou serpente

Pequenina) 

 

A folha da couve tem dois lados

Mas só num vive a lagarta

Que se agarra com quantos pés tem

Para não cair. A lagarta da couve

não faz mal a ninguém. 

 

Viva a lagarta da couve!

Viva!

*

A lagarta da couve que houve

Escuta, presta atenção, 

Ao geito do Mário Viegas,

Ao surrealismo do Almada

Ao mito desta lição

que com musica

Poderia ser canção.

Lagarta da couve que não tem coração.

Depenada processionária em procissão 

Pede que passe despercebida. 

*

No fim dos tempos, 

Depois de todos os incêndios 

E inundações, 

Das aranhas e dos mosquitos

Ficaram as lagartas sozinhas

Era o fim, o armagedão.



carlos arinto maremoto às 03:35
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Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2020
O beijo

Vou-te beijar!

 

Sou eu que te beijo

Ou és tu que me beija, a mim. 

Temos de decidir. 

Não podemos ficar assim. 

 

Claro que resolves tudo

Dizendo

Somos os dois. 

Um beijo só existe

Quando é partilhado

Dado, recebido, 

Oferecido, trocado. 

 

Beijemo-nos, pois,

No alvoroço do tempo

Que nos mistura, 

Na troca que nos une

No enigma dos olhos

Que se confundem ao fechar

Na boca que se abre ao sonho

Do ritual que se inicia

Ao beijar. 



carlos arinto maremoto às 18:14
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Intervalo

Lá vai o galo

Que tem muito que contar

Bate o galo na galinha

Antes e depois do altar. 

Galo que canta de galo

Sem ser ao romper da manhã

É mais pardal assustado

Do que galo galador, 

É bicho mutilado, galo

Que palra, palrador. 

 

O galo de crista arvorada

De garras lancetadas

Morre na cabidela do juizo

Que dele fazem os outros galos

Mais tenrinhos, mais fofinhos

Numa gala de convencimentos

Num tiro certeiro

Numa revolta no galinheiro. 

 

Intervalo

Para o galo que à frente

Vai primeiro. 



carlos arinto maremoto às 12:41
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Terça-feira, 21 de Janeiro de 2020
A história da carochinha

Tocam carrilhões

Badalos

Chocalhos

É alerta geral

Soam gaitas, 

Pifaros e vuvuzelas

Batem

Com tampas em panelas

Num carnaval

De exorcismos

Todos em contrição, 

Fogem assustados

Ficam os malvados

Eu mim, eu não. 

Quem quer casar com o João Ratão!?! 



carlos arinto maremoto às 00:41
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Segunda-feira, 20 de Janeiro de 2020
O combate ao frio

No tempo em que a geada é rainha

Muitos poetas escrevem versos

Para se aquecerem na fogueira

Das faúlhas e dos seus abraços. 

Nas  palavras inventadas

Com a urgência da ternura

Do calor adormecido que desperta

E há-de explorir em mil faiscas

Em sol e em silencio

Os poetas procuram palavras

Para se aquecerem, enquanto, 

Uma valsa que desce pelos rios

Vai surgindo, tímida, bruta depois, 

Num batuque de aguas

Num frenesim de emergência.  

E o frio desaparece. 

 

Ficam saltitares de crianças 

Risos, brincadeiras, jogos antigos. 

Velhos enrolados nas salgadeiras da vida. 

Àrvores em estilhaços 

Fumeiros que preservam a memoria

Em palavras sussurradas

Noites de cristal esculpidas em luar

Agasalho de viver. 

 

Palavras que os poetas inventam

Para combater o frio. 

(não sei se resulta, se a receita é maior

Sei que me apeteceu dizê-lo, assim!

E eu, nem sou poeta) 

 



carlos arinto maremoto às 07:52
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Domingo, 19 de Janeiro de 2020
Non bis in idem

Absolutamente. 

Claro que não. 

Nunca!

Diz o criador 

Para a "coisa" criada.

-Nem por absurdo. 



carlos arinto maremoto às 11:14
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Sexta-feira, 17 de Janeiro de 2020
Tudo medra

Tudo medra

Que merda, 

Até o cão da vizinha

Faz aquilo que não devia fazer

Não por culpa do cão, 

Mas por culpa da vizinha. 

 

Que merda! 



carlos arinto maremoto às 17:38
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Malversação dos ímpios

Está eleita

Está eleito

Cada um à sua vida. 

Não chateie mais.

 

Obrigado doutor

Mas, esta vida

Não tem melhoras. 

 



carlos arinto maremoto às 12:36
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Quinta-feira, 16 de Janeiro de 2020
A vida no campo

Tal como havia começado, 

Num repente, tudo acabou.

O sol, a chuva e o medo. 

 

O tempo é de rezas

E de espera 

Para quem trabalha e acredita. 

 

Tudo se recolhe 

No abrigo do celeiro

Tudo se guarda

Agora, para depois

Tudo faz falta, 

Tudo tem um sentido. 

 

Não vejo ninguém na rua. 

Portas e janelas fechadas

Em resguardo. 

 

Foi assim que encontrei

Perdida, solitária, 

A minha aldeia. 

 

 

 



carlos arinto maremoto às 23:35
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Quarta-feira, 15 de Janeiro de 2020
Cinema

Ah, sim o cinema, 

Fonema, Filomena, 

Filmes, fitas, clubes

De apaixonados

(em cine) 

Pelo mágico projectado. 

Coisas que vi na tela

Na pantalha, 

No televisor

Num lençol estendido

À noite ao luar

Com peripécias 

Que nos faziam corar

E sonhando, 

Também querer

Aventuras e amores. 

Recordo em sessão dupla

Dois filmes com intervalo

Um de cada habilidade

(género, sagacidade) 

Guerra, drama, história 

Ficção científica ou da outra

Muita coboiada e tiros, 

Fantástica distração

Onde éramos inocentes

Idólatras e críticos de arte

Sem o sabermos. 

Ah, sim, pois claro, 

O cinema.

Sempre o cinema. 

O cinema. 

Um fotograma. 

O cinema.

Outro fotograma.

Pelo menos era assim.

Agora é tudo diferente,

Até o cinema onde se vê 

O filme, mudou! 

Tem escuro

Nos andaimes da fantasia

Cor, movimento, sonoridades

Especiais enfeites

E animados desenhos

Inventados por alados

Artistas de mil e uma artes

De 1001 personagens 

Enredo, música, luz

Surpresa geral. 

O cinema

Tem um travo mágico 

A liberdade. 

Eu gosto do cinema assim! 

 



carlos arinto maremoto às 18:25
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MAREMOTO
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