Que mais posso hoje dizer-te
Senão Parabéns pelo teu aniversario
Bisexto.
Que mais posso hoje desejar que saborear
O teu olhar de lua e serpente
Enquanto a noite e o dia durarem
Únicos, exclusivos e apenas possiveis
Em nós que nos amamos sem fim
Todo o ano,
Em cada dia que o mês tem e o ano acrescenta
Por excesso... como um qualquer e vulgar
Acerto de contas ou regularização
De Imparidades.
Tudo foi habilidade inventada
Há muitos séculos
para que a concertação
Funcione
e tudo se equilibre no eixo da paridade.
(Enquanto tudo for o que é, e em possivel
Se tornar) , magicamente,
em pálido passado, de ajuste e consolidação.
Um ano de glória, mesmo que todo o mal se junte
Nada vencerá o amor.
O que se pode esperar de um anúncio?
Que anuncie, obviamente.
Que diga ao que vem e para que serve
Que nos alerte, que nos previna,
Que nos desperte a atenção letargica
Ao consumir tanta informação.
Que confusão, Maria.
Pior que sargacos e algas em mar de enguias.
Então fiquem a saber que no proximo
Fim de semana vai chover.
Fica o anúncio anunciado
Falta o fim de semana para ser
Certificado. Isto é... Logo se vê!
Logo se constata a verdade ou a mentira
Do prognóstico, a aposta calculada
Dos sacerdotes do clima.
Entretanto, a bolsa desce. Cai! Emagrece!
E os jogos seguem em frente
Desportivamente!
Chuva vai, chuva vem.
Esgotadas as máscaras
Terminados os festejos
E regressado de lados outros
Em sítios alguns
Atiro o passaporte para o lixo
E deito-me a ouvir os pássaros
E a salva de silêncios
Que me oferece consolação
Boas-vindas e protecção.
Aqui estou a salvo.
Tudo e todos ficam lá fora
Aqui estou imune e inteiro
Aqui sou verdadeiro.
Casas com telhados rubros
Folhas, musgos, sinais dos tempos
Do gelo, do sol, da chuva, dos gatos
Que sempre gostam de passear por ali,
Dos pássaros que descansam
As sempre regressadas andorinhas
E alguns astros sem nome
Que do céu aterram nos telhados
Em viagem entre vermelhas galáxias
Amarelos e roxos dourados véus
Do profundo mais fundo universo.
Telhados em cone, em pirâmide,
Outros rasos como navios em porto
Telhados em escada e em redondo
Em caixa fechados em pétalas abertos.
Casas com telhados de sangue
Devolvendo águas ao chão, às fontes
Como chapéus em escamas
Em degraus em bico de beiral.
Pequenos olhos deixam entrar a luz
A noite e as linhas da vida
Que dispersas se acoitam e florescem
Debaixo de telhados cor de vinho
Cruzando destinos. Fazendo outros!
Nem gato, nem cão.
Pássaros, também não!
Tenho apenas uma chuvinha
Que me molha a cara
Tenho uma vizinha
que em tudo repara
E muita perguiceira
Em dizer-lhe
Que se vá embora.
Nem gato nem cão.
Pássaros também não!
Despede-se o sol
Adeus!
Ficamos sós...
Eu, o vento, o escuro,
E a senhora
De que vos falei à pouco
De óculos pretos,
Cabelo engomado,
Blusa em botão
Desabrochado.
Porque não havíamos de dormir
Como gato, como cão
juntos, separados, amigados,
Iguais, conversados?
Ou muito simplesmente separados
Que de amor não fomos infetados!
Deixo-me ir com o vento
E viajo
Arrastado por sopros
Empurrado em supetão
Por impulsos
Em revolteio
Em planado voo flutuando
Por espaços rasgados
Entre o cimo e o chão.
Deixo-me ir
E sou parte do vento
Da fúria, da tempestade,
Da peregrinação
Do fuso, do remoinho, do tufão,
Aqui, e em todo o mundo
Desaquieto-me e sem amarras
Tropeço, chocando comigo
Em contra-mão
(que também sou gente
Corpo, energia, puzzle de muitos
Inventos... Construção)
Em espiral como um parafuso
Tonto de rodopiar
E saciado de tanto viajar
Repouso finalmente.
Vou, finalmente, descansar!
Não!
Vou reatar
Quero de novo viajar
Ir com o vento, ser faúlha
Fruto, folha, chuva
Terra, céu, ar.
Tenho a serra
As neblinas madrugadoras
As águas frias
E a luz que emerge
Como alvorada
Em despertares de serena chegada
De mais um dia
Que me sorri com afetos antigos.
Tenho a serra e a floresta
Os javalis e as borboletas
Como companheiros de aleluia
Os dias aqui, são sempre iguais
Ao primeiro.
A serra mostra-se
E o mundo recuscita
Num chocalhar de silencios
Em rochas imóveis
Em chãos abruptos
Em cortinas de água
Em pássaros azuis que esvoaçam
E tudo acontece.
O frio
Tem os dias contados,
Solteiro,
Desempregado,
Nem as climáticas o salvam
(novas ciências
De coisas antigas)
Vai tudo de arrasto
Congelado
Para o Verão.
Esperem e verão.
Os que lá chegarem,
Pois, ontem, morreram muitos
Que para lado nenhum
Irão!
Até os mamutes se riram
Da pretençao
Ficarem congelados
Para a próxima glaciação.
Contado
Ninguém acredita
Fica o frio
Do coração.
Não basta ter um sapato
São precisos dois
Porque tenho dois pés.
Mas ter 150
É lombriga
Insulto
E doenca
A precisar de tratamento.
O meu pé
Um de laranja
Outro de lima
Não serve
Caipirinha
Serve de tiçao
Para escrever
Isso não!
Acreditem que foi assim que o mundo ficou descalço
Gente que esbardalha não é gente que trabalha,
São mulas de exibição, para se mostrarem na televisão.
Ponho a toalha na mesa.
A faca e o garfo,
O guardanapo,
O copo para o vinho,
Outro para a água,
O pão,
O prato, já me esquecia,
E sento-me a jantar.
Falta a comida, eu sei,
Mas podemos simular
Sem abusar
Que a comida não faz falta
Afinal, o que conta
É a intenção.
O ritual.
O resto é carnaval.
E foi assim, que o fotografo disparou
E ficámos todos na alegoria
Como se o tempo fosse mudo, quieto,
Sereno, completo, único e uno.
Sento-me à mesa
E na cadeira em frente não estás
Reparo que estou só
E não tenho apetite
Quero apenas repetir os gestos
Como sempre. Como nunca!
Ensaiar uma última vez.
Para isso chegam as vitualhas
Que sobram na memória,
O cenário e a luz mortica da lua
Afinal tudo é magia.
O acto acabou.
A cozinheira foi-se embora
Acabaram-se os imigrantes ilegais.
Gosto de te ver ao sol posto
Num crepúsculo cinematográfico.
Enquanto o bar-tender não chega.
Bebe qualquer coisa, para animar.
O dia continua noite adiante
Tudo se há-de arranjar.
Vem, comigo, para a pista e...
Dancemos!
E neste encalço
Não morreram vacas,
Nem morreram bois
(tradicional beirão)
Pois no Marão, mandam os que lá estão.
123
Queres que explique outra vez?
Beijo a tua boca
Que me sabe a luar
E nesse mergulho
De sabores
Sou toda a montanha
És todo o mar
Somos o momento
Sem pensamento.
Em
Eclosão dos sentidos
Em
Paixão sem razão
Em
Ternura e carinho
Somos
Infusão
Corpo que se abre
Como um vulcão.
Um beijo
Tem o fascínio do mistério
O segredo do oculto
A ilusão do segredo
Um beijo é sempre uma surpresa
Uma voragem de fractais
Uma rosa
Nada mais!
A minha pele
Tem flores
Não é branca
Nem preta
Nem amarela
É da cor de todas as flores.
A minha pele
Está sempre florida
Nascendo na raiz
E cobrindo tudo
Num halo de luz.
A minha pele
Florida
É o mundo
Que me veste
Os sonhos,
Os desejos
De onde vim
O que sou
E para onde irei
No fim.
Eu sou a pele que me veste.
Sinto muito
É uma dor fininha
Uma pontada
Uma coisa de nada
Mas que dói.
Sinto que lateja
Que pode ser brotoeja
Que irrita.
Sinto que fico destroçado
Arrepiado
E com pele de galinha
Sinto-me abalado.
Sinto muito
Digo sem convicção.
Afinal não senti nada
Não foi de coração
Era, apenas, comichão.
O céu e a terra
São a mesma coisa
Só que em perspectivas
Diferentes.
Eu quero olhar
Para além do rio
Das nuvens
Do silêncio
E do momento.
Eu quero olhar!
Hoje vi um pássaro no céu
Que voava como um relâmpago.
Tinha asas e bico, penas e patas
Como todos os pássaros.
Era grande e escurecia a terra
Quando passava por debaixo do sol
Subia, descia e fazia circulos
Em volta da torre da igreja
rapinava no chão, raspado com as garras,
e mergulhando no lago, pescava.
Desaparecia por detrás das nuvens
E a todos assustava.
Era um terror ver um pássaro assim!
Para onde foi?
Agora que o não encontro
Com o meu olhar,
Poderá estar, acoitado, atrás de mim.
Hoje, eu vi um pássaro que não existe!
Hoje é dia dos namorados.
O carnaval são três.
Três foi a conta...
Já não me lembro quem fez,
Mas é verdade,
Eu estava lá, vi tudo,
Posso jurar e testemunhar
Que é verdade.
"Eu seja cego"
(que esteve comigo na guerra
E hoje conduz um táxi em Moscovo)
Assim o dizia.
Já o resto demorou mais um bocado
Pois só houve descanso ao sétimo.
Pois Deus, na sua infinita bondade,
Não deu tolerância de ponto
A ninguém.
Um, dois, três, diga lá outra vez!
A guerra sempre foi assim.
Não há diferença.
A guerra é igual em todas as partes
Do mundo
E no coração dos soldados:
Dizimadora, iníqua, putrefacta
Louca em todas as formas
De celebração.
(puta, rameira, orgiástica,
Feiticeira, virulenta,
Viciante, contaminadora
Suicida por omissão)
A guerra é a guerra
Nas colónias, no ultramar,
No Vietnam, no Afeganistão
Em Israel na Palestina.
Nunca se sabe do que se morre.
Para que se morre.
Morre-se...
Apenas.
Mesmo os que resistem
E os que dizem não!
Morrem devagar na ilusão
De que a guerra (era uma vez...)
Acabou!
Eu estive lá
E vi o que não vou contar.
Eu estive lá
E foram muitos os que estiveram
Comigo.
Eu estive lá
E foram dias e noites
De tiros, de mortes, de revolta
E de angústia por não ter razão
Por que lutar.
Lutávamos por nós mesmos!
Pelos que fugiam e desertavam
Pelo inimigo que depois foi amigo
Pelos nossos pais, amigos
Namorada, amante,
Por todos os que sobravam
Por todos que queriam viver
E soçobrava por não te ter.
(longe, distante, ausente,
Sei lá se perdida)
Eu estive lá
E regressei com a memoria
Do que não vou esquecer
Do que não vou contar.
Hoje é dia.
Podia ter sido ontem, ou amanhã,
Mas é hoje!
Hoje é dia de ser dia do que quisermos
De nós, de tudo, do riso, do sempre
E do absoluto.
Hoje é dia de namorar
De viver, de casar, de ser feliz
De amar os filhos,
De encontrar outras ocupações
Belezas, liberdades, ternuras
Todas as oportunidades do universo
E viver na infinita vontade de sermos
A poeira que constrói o espaco
E a natureza e o sol e a chuva.
Hoje,
Os deuses, todos juntos
Rindo à gargalhada
Trocando o dia pelo sempre!
Dançando como não há memória,
porque nunca houve igual, ou
Um dia assim.
Hoje é dia de encontrar os amigos
De gritar, de sonhar e de seguir em frente.
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