Pequenas opiniões sobre quase tudo que servirão para quase nada
Terça-feira, 30 de Junho de 2020
A crença é cega

Sou masoquista

Gosto de bofetadas

Viajo na tap

Pago impostos

E faço voluntariado 

Gosto muito de ser parvo

Adoro ser masoquista

E acredito na justiça

Além de que

O meu clube vai ganhar

O campeonato

Este ano e no próximo, 

Sim, tenho juízo!

Acredito que #vai ficar tudo bem#

E a economia vai recuperar

Já avisto os turistas a chegar

O meu nome é 19

Covid-19

(ate já encontrei um culpado para a praia da luz

Quando o último sair, a luz apagar-se-à,  automaticamente,

Os sensores não falham... até lá haja alegria)

Creio nos homens e mulheres que nos gerem

E nas suas decisões sábias. 

Quando deixar de ser masoquista serei regente

De orquestra e dealer de amores proibidos, 

Aprendiz de sexualidade religiosa e castidade grupal

Porque na vida  o swing é vegetariano. 

Dança comigo que a crença em melhorar é cega

E o prazo gravado na embalagem dos yogurtes

 

acaba amanhã. 

 



carlos arinto maremoto às 12:01
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Segunda-feira, 29 de Junho de 2020
Policias

Estou rodeado de policias

De seguranca

Da guarda

Da autoridade que tributa

Maritima

Municipal

Militar

Proteção civil

A vizinha do rés do chão 

Bombeiros

Do trânsito 

Nadador-salvador

O vendedor das bolas de berlim

Como informador (polícia disfarçado) 

O cobrador do transporte 

O revisor do comboio

O vigilante do supermercado 

O segurança 

A puta que os pariu. 

Todos me controlam

E sabem o que faço. 

Onde ando, para onde vou. 

 

70% da população e policia

A outra é prisional em condicional.

Fecho a janela e apago a luz

Deito-me com a mulher do youtube

Com a aplicação xpto

Com a cara de livro 

E ainda sou vigiado pela luz do telemovel

Que pisca em azul

Como qualquer carro da polícia. 

 

Na corporação tenho a patente de acossado

Técnico superior voluntário. 

 

Não se pode confiar em ninguém. 



carlos arinto maremoto às 21:28
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Domingo, 28 de Junho de 2020
condomínio fechado
condomínio fechado

É domingo, de novo,

O que acontece, todas as semanas

De seis em seis dias

E não tenho melhor forma de explicar

uma vez que sempre me surpreendo

Domingo, outra vez.

Já morreu meu pai. Já morreu minha mãe.

Domingo.

Toma lá domingo, outra vez.

E o meu filho que ontem era pequeno e hoje...

Continua a ser,

(que para os pais os filhos nunca crescem.)

Toma lá domingo, outra vez.

Parece um xarope, uma doença crónica

Uma carraça ou uma nódoa que não sai.

Domingo!

 

Mas, estava eu a dizer-vos isto, quando

Ouço os mamutes que se levantam

E em manada seguem as pegadas, uns dos outros

Em sons compassados, secos, ocos, ribumbantes

No apartamento ao lado, na casa, lá da cidade.

 

Só no meio do casario é possivel ouvir o som dos mamutes

Sentir a sua inquietação, o desassossego, o restolhar

Eles sabem que são - ali, na cidade - uma aberração.

 

Deixo-lhes amendoins junto da porta de entrada.

Não são só as pombas que precisam de ser alimentadas.

A cascável do terceiro esquerdo veio roubar o leito do gato

O aranhiço do sotão reparou as fissuras do prédio ,

Usando a técnica dos paraquedistas,

descendo à cave preso preso por cordas.

A lagartixa tem cá o seu namorado e hoje é dia

Do veado andar com os cornos no ar, há missa no sobrado

 

E o domingo tem o rosto de um tratador de leões do circo

De um cigano que estende na lona,os produtos para venda

Na feira. De presbiteros que reunem a congregação.

 

As flores e as crianças não sabem que é domingo, e por isso..

São as unicas que permanecem felizes.

 

 



carlos arinto maremoto às 07:36
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Sábado, 27 de Junho de 2020
Glifosato

Esta noite

Choveram plasticos

Na minha rua. 

Os canteiros estão cheios de lixo

De papéis, garrafas velhas

E dejectos de cão. 

Foi uma noite terrível. 

 

Agora, que amanheceu.. 

Há um cheiro a ovos

A omolete a ácidos pútridos 

A vermes

A legumes e mamiferos

Em decomposição. 

São os restos da festa de ontem. 

 

Frutas fermentadas ensopam

As vísceras que em serpentina

Repousam em estilhaços 

Nos intersticios do fogo-de-artificio

Que se extinguiu logo que a noite

Deu por finda a sua respiração. 

Os sulfuretos do estertor

Ainda borbulham e eclodem 

Como rosas radioactivas. 

 

Lá longe,

A erva cresce alimentando-se

De ácidos

Os resineiros espetam seringas 

Para as árvores cresceram

Nas veias roxas das raízes

que calcinadas ainda sobrevivem

Como regatos de urina. 

 

Esta noite

choveram plásticos

e balões 

E o chão ficou esburacado.

 

*

Quem me disse foi o senhor João 

Que não é santo nenhum

Se calhar, até foi ele que ateou o fogo

Que carbonizou a humanidade.

Uma desgraça assim, não nasce e se faz

Sozinha.

sim, vocês são culpados!

Sim, nós somos todos,

culpados!

*



carlos arinto maremoto às 08:56
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Sexta-feira, 26 de Junho de 2020
Fico calado

Sei que não devo dizer, 

Escrever, 

Sequer pensar. 

Sei que o homem-bom

É o que fica calado.

Dizer disparates é um sinal

De inteligência, de erudição 

Até pelo contraditório 

Que permite audiências.

 

Sei que o calado

Tem sempre razão. Dizem!

Embora discorde,

Porque na dúvida 

Sei que o calado é um idiota

Sem opinião. 

 

Esforço-me por não pensar

Por não dizer, opinar, emitir parecer

Abstenho-me de ser compulsivo

E alcoólico das palavras.

Fico na turbulência das trovoadas

Encolhido, como se não existisse

ignorando a ausencia da afirmação 

Porque desnecessária e irrelevante. 

A vida é um silêncio

Feito de tempestades

Uma escrita feita de todas as palavras

(misturadas, repetidas, alinhadas) 

Uma tela com desenho e tintas

Construída com todas as cores, riscos, 

Espaços, subtilezas e nuances das galáxias.

Sabes amor, deixa-me tratar-te assim, 

Nas galáxias o som não se propaga, 

E por isso, nada digo. 



carlos arinto maremoto às 10:14
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Quinta-feira, 25 de Junho de 2020
Confusão

Há uma confusão que remoinha sem rumo

Dispersa a razão e empurra-me para o espanto

E a estupefacção. 

É uma confusão que poderia catalogar como desorientação

(se ainda houvesse arquivo ou ordem de catálogo ) 

É ausência de coordenadas, turba em debandada. 

É  eliminação de referências, de âncoras, de boias

Num ápice tudo foi tornado igual e remexido

É finalidade que não se descobre sentido. 

Confusão é isso mesmo perder lógica e ordem. 

 

Confusos todos os átomos se agitam e flutuam

Sem saberem onde pousar, que partes da matéria são 

Que função lhes está distribuída?

A antiga ordem terminou. Todas as leis da física cessaram

O etéreo é o imaterial espantaram-se com a mudanca

E a brutalidade dos embates e impulsões derradeiros. 

Definitivos e aterradoras porque desconhecidos. 

 

Confusão e desorientação, caos e regresso a um indefinido

Antigo, natural e inicial começo. 

 



carlos arinto maremoto às 07:09
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Quarta-feira, 24 de Junho de 2020
A cerca

Ter uma cerca a toda a volta

É redil. 

É prisão, campo de não fuga

Desconfiança, imposição. 

Por vezes tem de haver coleira

Reconheçamos,

Se possível no dono do cão. 

É por isso que não me encontram

Por aqui. 

As manadas e os rebanhos

Empurram-me para fora do redil

Para longe do enxame

Para fora do cardume. 

Descercando a cerca. 

Passando ao longe

Sem a proteção das ameias

Afastando-me das muralhas. 

 

Espantados? 

(domesticados)

Vou com os pássaros

Voo com os pássaros 

Em bando.

 

Em cercas desnatado. 



carlos arinto maremoto às 07:58
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Terça-feira, 23 de Junho de 2020
Lisboa soterrada

O verão chegou com uma toalha de poeira

Que cobriu toda a cidade. 

Primeiro como um leve sacudir, depois em tempestade. 

Despejou areias por cima de todas as casas

Ruas, jardins, praças, monumentos

E em poucos segundos, horas ou dias (as versões variam)

Tudo ficou soterrado. 

Sobram pequenos caboucos, bocados de muros

Estátuas derrubadas e Telhados abatidos com buracos

Donde saem fumos. Toda a vida ficou dentro, no fundo

Lá em baixo...

... Esconsos... escombros com escombros.

Não há sobreviventes.

A cidade ao longe, vista da outra margem

É uma enorme pirâmide com um castelo numa das faces

Um imenso deserto de cristais onde uma ponte se espeta

Uma praia que do rio se eleva para as colinas em dunas

E onde nada mexe. (vão ali dois aranhiços, uma siri-chita)

Nada mais. O silêncio é tumular. 

O vento parou. 

 

Os barcos que estavam a chegar, deram a volta e zarparam

Os aviões rumaram a outras cidades ainda longe, a distância. 

E os comboios e carros, imobilizados, fizeram longas filas nas linhas interrompidas em todos os pontos cardeais que convergiam para a cidade. 

 

Tudo foi impossível. 

Depois um sol bailou. 

 

 

 



carlos arinto maremoto às 07:02
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Segunda-feira, 22 de Junho de 2020
Tudo ou nada

Hoje não morreu ninguém. 

Apenas indigentes

Barbeiros e velhos asilados

Se foram. 

Ora, esses não contam, 

As estatísticas não se comovem

E os gráficos não registam

Números que não têm  importância. 

 

Os heróis dos sonhos tristes

Dos sorrisos abertos

E das vidas de mentira

Ganharam mais um dia de vida

E continuam felizes. 

 

Hoje não morreu ninguem

Porque era domingo

E aos domingos a morte retrai-se

Ameaça, pereclita, mas hesita

Não se pode estar a morrer 

Todos os dias...assim em desenfreada. 

 

Hoje não morreu ninguem

Amanhã logo se verá,

Pode ser que morram as sobras

E a estatística duplique.

Pode ser que a curva seja erecção 

Disparo ao alto, flecha, punho

Pode ser que haja dedo levantado na verical

A puxar para a desgraça 

A mandar-nos foder a vida

Pode ser que a morte não esteja

Acanhada, envergonhada

E não se fique pelo planalto. 

 

Amanhã, 

É tudo ou nada.

 

Pode ser que a morte me diga:

-É, tu aí, anda cá!

O que andas a fazer aqui, desavergonhado?

Conta-me uma história...sobre algo

Que eu ainda não saiba e... Diz-me aquilo

Que desconheço, o que julgues que

Tenho curiosidade em saber

Vamos ver do que és capaz. 

Vá lá, rapaz! 

 

Fiquei sem fala. Quase morri. 

É tudo ou nada, pensei.

Virei-lhe as costas e fui-me embora.

Pelo canto do olho espreitei... 

A morte sorria. 

 

 



carlos arinto maremoto às 03:26
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Domingo, 21 de Junho de 2020
Andam a gozar connosco

O actor, galã de novelas 

E herói de enredos dramaticos

Que tiveram pouco público, 

Matou-se!

Está no seu direito, 

Não chateie com o seu sorriso

Com a sua arte e profissionalismo

E boa educação que todos elogiam. 

Matou-se por causa de uma depressao

Dizem... Disseram... Consta.. Justificam. 

Pois que seja. 

O que me causa impressão é que peça 

Aos amigos para tomarem conta dos filhos. 

Ele vai ali e já não volta.

O actor sorri, como sorriem todos os suicidas

Como fazem todos os que estão nas revistas

E que deslumbram os incautos que vegetam 

E gastam dinheiro para os alimentarem

 

Que figura fazem os fodilhões 

As beldades e as convencidas de curvas

Deslumbrantes.

Que tristes e criminosos exemplos

Senhor presidente da República, 

Senhor Primeiro ministro, 

Depois vem-nos pedir contenção. 

Tenhamos paciência, a vida não é ilusao

Teatro, cinema, romance, fotografia, 

A vida é selecção.

 

Bye, bye

Não se esqueçam de tomar os comprimidos. 



carlos arinto maremoto às 12:36
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Sábado, 20 de Junho de 2020
A praia

A praia é aquele sitio - ali - onde a terra mergulha no mar

Onde as águas se levantam e batem nos penedos 

Onde por vezes há areia, outras pequenos seixos

Arribas abruptas ou enseadas a perder de vista. 

A praia pode ser em meia lua, como uma bexiga

Ou em linha reta, com botões e caldeiras, poços,

Pedras, lapas e sedimentos fósseis em alvéolos 

Acolhendo águas turvas, límpidas, frias ou temperadas

Com algas que baloiçam nas ondas, ao chegar. 

A praia é só ali. Logo depois tudo é mar. 

Para trás ficam as erupções do passado, os cumes

As altas montanhas de onde se entornam os rios

E para onde converge toda a vida que se deixa rolar. 

Por isso, a praia é o destino natural dos que chegam 

(dos que partem e dos que vão) 

Dos que esperam e dos que se sentam no areal

A pensar ou apenas a repousar.

Depois das praias existem outros lugares

E outras praias, e outras gentes, 

Tudo é novo e diferente, porque igual e antigo

Porque faz sentido. 



carlos arinto maremoto às 09:54
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Sexta-feira, 19 de Junho de 2020
Ser hipócrita e por as mãos na cabeça

Por favor, 

Deixem de ser hipócritas. 

Hoje morreu mais um escritor

Um artista, um cantor... 

Então e depois?

Deixem de falar em percas brutais

E definhamento da cultura 

Deixem de ensaiar desgostos que não sentem

E vergonha que vão tiveram

Enquanto no passado

Não lhes leram os livros,

Não admiraram a sua arte

Nem assistiram aos seus concertos.

 

Homens e mulheres 

Poetas e romancistas

Actores, escultores, 

Pintores, ensaístas. 

 

Morrem, porque todos os dias morremos

E todos os dias se fermentam outros

E se celebram os que foram 

Com a mesma ousadia ou o mesmo elogio

Com que saudamos os que chegam.

 

Nunca leio livros por empréstimo. 

Cada livro sou eu e o autor que o escreveu. 

Só nós, ambos, juntos em sintonia e cumplices

Cada livro é o mundo e é meu. 

 

Obrigado!

Aos que morreram, aos que morrem

E aos que hoje nascem. 



carlos arinto maremoto às 12:45
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Quinta-feira, 18 de Junho de 2020
Ausência de vazio

Tudo está ocupado. 

Todos os buracos e todas as frestas

Possuem gente

Que se debruça, 

Se esgueira e se consome.

Não há sitio para onde ir, 

Em todo o lado

Alguém chegou primeiro.

 

Afasto-me, divago, aguardo

E... Nada acontece.

Não consigo uma esquina,

Uma alteridade,

Uma opção de bipolaridade

Tudo é contínuo, 

Zona cheia sem vazios. 

 

Estarei em excesso?

Onde foi que me enganei

Quando quis ir à varanda do ginásio

Ao alpendre do miradouro, 

A janela da imaginação. 

Onde foi que errei?

 

 



carlos arinto maremoto às 11:35
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Quarta-feira, 17 de Junho de 2020
Da esplanada,

Hoje andam, por aqui, as lagartas do desejo. 

As brincadeiras da sedução. 

Uma mulher passeia o cão na rua

Cruzam-se adolescentes em galhofas soltas

Homens com tatuagens fumam às portas do bar

E um rancho de velhotes ensaia cara fechada

Para ver se assustam as crianças que correm

Em bicicletas, em trotineta e em skates

Refulgindo e salpicando a vida com sol

Risos , gritarias e choros de trambulhão

Que logo são esquecidos

Em algazarra, patifarias e bulhas pelo chão. 

 

Magras como carapaus, gordas como sardinhas

Loiras, ruivas, brancas e pretas, outras asiáticas 

As ruas estão cheias das mulheres da minha vida. 

 

Se eu fosse o outro, 

Aquele que não sou, 

Amá-las-ia sem receio de pecar, sem medo de ser promiscuo

Sem licença ou benevolência. 

Como se tudo fosse uma coisa natural e consentida. 

Assim, fico-me pelo desenho de escrever palavras

E desfolhar a sua passagem no dicionário da esplanada

Onde, meu amigos, me encanta a vida. 



carlos arinto maremoto às 11:00
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Terça-feira, 16 de Junho de 2020
Mulher

Mulher que respira sumo

Que é fumo 

Vento de faces maduras

Onde as areias já deixaram marca.

Mãos com dedos finos

Olhar acutilante, cabelos revoltos

E boca em uva -

Todo o corpo em cacho -  

num pescoço de pêssego 

Com penugem de marmelo

E em forma de esplendor

Que apenas posso dizer...

...que é solar. 

Mulher que encontro na esplanada da vida

Na maternidade da criação,

Rumo à arte e ao belo,

à perfeição

Traço do criador.

Escrita, tela, desenho

Ou aguarela

Que se compõe em reflexos de água 

Para descobrir a capacidade do êxtase 

Em nuvem nua, de orvalho difarçada, 

Essência da beleza na silhueta da sombra

Que é esteiro,

Hino e serena confiança.

Afirmação de mulher.

Intuitiva. Natural. Sagrada.

Definitiva. 



carlos arinto maremoto às 12:29
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Segunda-feira, 15 de Junho de 2020
O absurdo

O motorista esqueceu-se de tirar a mangueira

Do ânus traseiro do carro

(desconheço se também possuem ânus na frente) 

Quando na bomba fez o reabastecimento da viatura. 

Saiu arrancando a bicha, a mangueira e o que mais

Seguiu atrás: vísceras, gazolina, borracha queimada,

Um estampido, uma puchada e salto em esticão. 

Distração... Disseste. 

Onde estavas com a cabeça? 

Porque é que aquilo tudo não explodiu mandando

Para o caralho a tua distração? 

És muito distraída, muita dada a confusões. 

Santa Barbara de Nexe nos valha

E vê se te mexes

Que te afogues e te incendeies e desapareças. 

Gente assim, não faz cá falta. 

Incinera-se e pronto. Por cima coloca-se um creme

De cremação 

Tipo bolo de arroz. Cereja, ginga ou cigarro aceso no cu

Que absurdo! 

Tantos anos de evolução e depois dá nisto

Bêbada a andar de gatas no chão. 

O motorista é que tinha razão. Deixa que eu conduzo! 

 



carlos arinto maremoto às 18:20
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Domingo, 14 de Junho de 2020
Rodrigo guedes

Termino a leitura de um livro

 

Já morreram todos, já todos foram à enterrar

Triste desfecho, tantas páginas e aflições 

Para acabar tudo morto. 

O autor escreve bem. 

É claro, sucinto, usa as palavras para mexer

Connosco, com os personagens, com a vida, 

Mas exagera estraçalhando tudo e todos

Deixando-me arrepiado triste e desconsolado

Gostava mais de um fio de azeite a crepitar

Lambendo as páginas, sem fazer mal, porém... 

Tudo ali é mecha, explosivo, tubarão no mar

O autor  não deixa ninguém escapar

É torcidário, filho da violência e matador compulsivo

De chacina em chacina vai somando fuzilamentos, 

Suicídios, sovas, porrada e com água ou veneno 

Todos morrem por um acaso, uma desatenção 

Em percalços e bulhas de famílias às avessas.

Vou deixar que o retrato se apague da memoria

E que o escuro da ficção seja um mau momento da criação

E alguém sobreviva para contar :

Sim o mundo por vezes é assim! 



carlos arinto maremoto às 19:13
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Limpeza do terreno

Depois da missa, 

O som, sempre igual, monótono e constante

Arranca devagar... Pára, continua, acelera, volta a parar

Arranca em soluços, suspira, tem intermitências, 

Salta em decibéis iguais, uiva aflito,

Continua em esticão e vai-se prolongando pela manhã

Como uma lâmina que separa as horas e limpa as terras

 

Hortas, canteiros com flores, árvores de fruto, 

Matos selvagens, ervas eriçadas, urze, rosmaninho 

Todo um novelo de fios que se entrelaçam no verde

Salpicado por azuis, amarelo, roxos, brancos e violetas. 

 

Ramos, pernadas soltas, ervas e arbustos decepados

ficam em monte misturador com molhos de caruma. 

Algumas pedras  saltam e rolam escarpa abaixo

Em cardume, em bando em manada todos se espantam dali.

Restam verduras a secarem ao sol, paus, galhos, 

Logo mais, estrume e vegetais em decomposição 

 

Fica o chão seco, raso e o som dos ofícios extingue-se.

É hora do almoço. A pique, o sol encanta, e as gargantas 

Deliciam-se, finalmente, com o vinho maduro e a água fresca.

 

É assim, a vida no campo. Domingo, sem descanso. 

 



carlos arinto maremoto às 10:15
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Sábado, 13 de Junho de 2020
Moto-serra

Um qualquer barulho de motor trespassa a serra,

O arvoredo, as galinhas, a passarada e as ovelhas

Como se de trator, se tratasse, ou moto, ou serra de corte 

Bomba de recolher água em poço profundo,

Talvez roçadoura de lâminas afiadas, 

Um roncar insistente, uma troada

Que mancha o silêncio e a quietude do apaziguamento 

Confinado nestes vales onde até o ladrar de um cão 

Nos sobressaltada. 

 

Depressa nos habituamos.

 

O ronco pára tal como começou 

Subitamente.

Já nem nos lembramos que existiu e que nos assustou

Desapareceu, tal como chegou, com a urgência da serra

Antigo serrote movido a combustão de ruidoso propulsor

Que corta a madeira e terminada a função se cala.

 

A lenha será fogueira e lume

E o barulho crepitar. 

A tarde adormece com zumbidos de abelhas

E chocalhos de badalos do gado a recolher aos currais.

Tudo volta ao normal. Há um fumo no palheiro

Tudo o resto é silêncio.

Passa uma vizinha que me saúda, magra como agulha

E fica a noite companheira deste abandono 

Debaixo de uma luz mortica, de candeeiro rodeado de asas

De insectos que se aproximam circulando em volta.

O barulho da serra é agora um murmúrio 

Alguns pios de pássaros e as copas das árvores em abano

Nada resta do tronitroar. 

 



carlos arinto maremoto às 19:28
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Sexta-feira, 12 de Junho de 2020
O ruído em trovão

O ruído precepita-se em cachoeira

Sobre a minha cabeça. 

Risos, gritos, sons de televisão, 

Escapes de carros, conversas em gestos

E pregões de quem comunica à distância, 

Ar soprado artificialmente, vento das eólicas 

Chocalhar de copos, garrafas, mais gargalhadas

E bater com os pés no chão, vozes zangadas. 

O barulho cresce em arraial

Batem palmas, castanholas, incentivos,

Uma música irrompe como lança 

Um jogador conduz ao delírio os epectadores,

Público extasiado, adeptos e claques 

Todos os que não resistem em abrir a boca

E, gritar! Gritar! Gritar!

 

O barulho é um remoinho de insultos

De argumentos, de medicamento

Anestésico, alucinogenico, 

Receita para triturar ideias e pensamentos 

É no ruído que se avança para a guerra

Para a insurreição e para a morte

É no barulho da batalha que se decide

Os que sobrevivem e os que rebentam

E se estilhaçam.

É no ruído e no truculento badalar da insistencia

Que nos ameaçam e corrompem. 

Um matraquear. Um perfurar que penetra

Um demolir. 

O barulho é praga, martelo.

E se o questionarmos, se ingenuamente o inquirirmos

Dirão : barulho? Qual barulho? Não tinha reparado.

(estou tão habituado)

Sílabas estridentes saem por entre os dentes

Um tambor rufa, o coração dispara

Há tiros e fogo de artifício no ar. 

O barulho só não é insurdecedor, porque já ninguém ouve

O som mistura-se com o ruído o arranhar de unhas

E o batuque pulveriza quem passa, os que se aproximam.

É telúrico e desaba em pandemia colapsando. 

 

Não existem sobreviventes! 



carlos arinto maremoto às 08:14
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MAREMOTO
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