Hoje li um poema que dizia assim:
"um frio com baixas pressões e possibilidades de aguaceiros.
É complicado!"
Gostei! Acho que tem alma e sentido.
Tem luminosidade e humidade quanto baste.
Tem futuro (toda a previsão é para o que há-de chegar)
E tem sonoridade.
Se eu soubesse escrever, escreveria algo assim.
Com punho, com garra e dentes apertados
Com a violência de um boletim e a presciência
De tufões e enrodilhados ciclones
Ou calmas praias de ilhas que já foram vulcões.
Hoje li um poema... Numa tira de jornal
Ainda tenho uma espinha na garganta,
Sim, custou-me a engolir. Num jornal!
Era um jornal de letras!
Confundi o hoje
Com o amanhã...
Pensei que estava, onde não estava
E esqueci-me, perdido aqui.
Que disparate!
Trocar o que ainda não aconteceu
Pelo que já passou.
O amanhã será consequência de hoje
Nunca o inverso.
O mundo não tem recuos... Repetições, talvez!
O amanhã será diferente e novo
Nunca usado. Reciclado, feito de velhas coisas
Mas, novo!
Que disparate!
Tenho de ter mais atenção.
Começa-se a trocar as datas, a torcer os dias
A alargar o provir tortura do passado
A não saber onde colocar as mãos
E acaba-se em nada!
Em esquecimento!
Quando morrer, quero levar o meu corpo comigo
Ir embora e voar em círculos em volta da minha cabeça
Em redor dos que aqui ficam.. E desfiando sempre,
Como um novelo em que se desatam os nós,
Esticar o emaranhado e deixar invisíveis fios...
Fios longos, compridos, com-pri-dos.
C o m p r I d o s! Por aí...
Os pássaros estão de regresso,
Não de chegada, mas de partida.
Vejo-os nas árvores,
Nos fios de electricidade,
Nos Telhados,
Adeus, boa viagem!
Juntam-se antes de partir
Voam em bando
Rumam ao sul
Que o norte são terras frias
Não desejadas.
Quando estiver tudo pronto
Partimos!
Últimas verificações na "check-list"
Quem está atrasado?
Depois o céu será filtrado por uma rede
De asas em movimento
E a seta em triângulo deslocar-se-á
Em delta para sul
Até desaparecer da vista e do olhar.
Somente, nós, que estamos imobilizados,
Somos sedentários e não temos asas
Ficamos.
Lá vão uns, lá vão mais, ainda outros.
As árvores choram com o silêncio que fica
Mas, ramos fortalecidos, com a chuva que há-de chegar
Esperam o regresso no próximo ano.
Agora é tempo de mudança e de espera
Se eu tivesse asas, pegaria nas minhas raizes
Que me prendem ao chão,
E iria com vocês. (pensam as árvores)
Voltem logo, estaremos aqui, verdes, floridas
Com roupa nova, acabada de vestir, para vos receber
-nós sabemos, dizem os pássaros,
Sem se desviarem da rota.
Obrigado por tudo, ninhos abrigo, filhos, alimentos
Não esquecemos...
E lá vão, já não se vêm...
Nada acaba, porque tudo recomeça,
E o recomeço é já agora, neste momento
Mesmo parados, estamos sempre a viajar.
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