Ninguém pode ter ficado indiferente com a reportagem sobre a "violência e indisciplina" existente em algumas escolas, ontem exibida na RTP.
Atrevo-me a produzir apenas três pequenas notas:
- Enquanto os professores não se assumirem como educadores, o lugar da escola será apenas um local de passagem efémero e inconsequente para os alunos com problemas sociais ( com origem na família , no meio de onde são originários ou pela perspectiva de futuro que não possuem )
-Enquanto os professores não colocarem a "saúde cultural" dos seus alunos e os resultados acima das suas carreiras e dos seus interesses particulares, o ensino será apenas uma profissão como outra qualquer, com qualidades e muitos defeitos, sem objectivo nem resultados atribuídos aos professores - quem quiser aprender, aprende, quem não quiser que se lixe.
-Enquanto o Estado olhar para estes problemas e afirmar "não é bem assim, isto são casos de excepção" e os professores se acharem "coitadinhos e vitimas de uma profissão de risco" tudo tenderá a gravar-se, a deteriorar-se e a piorar. Afinal é nestas escolas que se começa a aprender a ser "delinquente"! Vai-se experimentando, a coisa funciona e depois é só continuar.
Meu caro. O tema dá pano para mangas, mas vou tentar ser breve.
Para começar os professores, tal como nós, também têm direitos e toda a legitimidade para os defender. Nomeadamente o de serem respeitados e de disporem de boas condições de trabalho.
Grande parte dos problemas do ensino começam em casa em que as crianças não são devidamente educadas ou pertencem a famílias com problemas graves de inserção social. É confrangedor o elevado número de pais que se demitem das suas responsabilidades e não exercem qualquer autoridade sobre os filhos. Faz-me lembrar um amigo meu que, por brincadeira, dizia que só batia nos filhos em legítima defesa...
Muitas dessas crianças não aceitam qualquer espécie de autoridade dos professores.
Mesmo os melhores professores têm uma enorme dificuldade em manter a ordem nas aulas, porque nelas existem quase sempre elementos que se estão totalmente nas tintas para aprenderem. Fazem barulho, interrompem os professores, ameaçam os colegas mais ordeiros e estudiosos.
Mas os professores não dispoem de qualquer ferramenta coerciva, nem mesmo a ameaça de cumbo. Porque hoje é quase preciso um decreto para chumbar seja quem for.
Claro que há maus professores, mas o ambiente nas escolas, os baixos salários e os ataques do Governo não me parecem constituir grandes incentivos para melhorar. Talvez sejam mesmo para estragar os bons.
De
maremoto a 2 de Junho de 2006 às 07:17
Meu caro fernando Vouga,
Vamos dividir a questão em duas partes: os encarregados de educação são manifestamente ausentes ( em muitos casos) mas a questão está em que eles (miudos) existem.
Segundo: os professores precisam de autoridade para chumbar e para disciplinar impondo sansões. Ao não fazer isto estão a criar delinquentes, pois geram a noção de que "está tudo bem".
Ser professor não pode ser visto como um emprego "normal" e uma profissão onde não se quer "chatices". Não diria que seja uma vocação, mas tem de ser mais do que uma profissão. Os professores também não se posicionam perante os jovens como "autoridade", muitas vezes querem ser "colegas", não podem!
Um abraço!
De acordo. Mas o que está em causa é a política do Governo. Para lá de estar a lançar uma campanha de desprestígio do sector (técnica tão querida dos governantes actuais), pretende transformar os professores em meros funcionários. Sendo assim, será de esperar que a classe sinta as especificidades inerentes à sua missão de educadores?
Comentar: