Já vinha no prato
Ainda o prato estava vazio
A lagarta fugiu do frio
Para o meu colo
Deixou a horta
E comigo à porta
Sentou-se à mesa
E comigo conversou.
Era uma lagarta da couve
Que tinha fome:
Dividimos a sopa
O caldo verde o bacalhau.
Depois eu fui marear
E a lagarta da couve
Descansar.
Nunca mais nos encontrámos!
Na vida real de todos os dias
Vejo-a na televisao
Em dias de petisco
Num programa de culinaria
E gastronomia
Com políticos e saltimbancos
Que assaltam bancos
Mastigando couves tenrinhas
E brócolos em segunda mão
Nabiças e outras hortaliças.
(congelados, conservados,
pois claro, recomendados
Para dietas e outras mezinhas
Com couves ou com galinhas)
São lagartas com ventosas
As rodas do meu trator
Por cima de pedras e calhaus
Na lama e no mais desabrigado
Piso seco ou piso molhado
Lá andam as lagartas
Desenrascando os desenrascados
Em sementeiras e escareeiras
A gradar o verde, do repolho
O rebento novo da flor da couve.
(que lagarta não é minhoca,
Nem centopeia ou serpente
Pequenina)
A folha da couve tem dois lados
Mas só num vive a lagarta
Que se agarra com quantos pés tem
Para não cair. A lagarta da couve
não faz mal a ninguém.
Viva a lagarta da couve!
Viva!
*
A lagarta da couve que houve
Escuta, presta atenção,
Ao geito do Mário Viegas,
Ao surrealismo do Almada
Ao mito desta lição
que com musica
Poderia ser canção.
Lagarta da couve que não tem coração.
Depenada processionária em procissão
Pede que passe despercebida.
*
No fim dos tempos,
Depois de todos os incêndios
E inundações,
Das aranhas e dos mosquitos
Ficaram as lagartas sozinhas
Era o fim, o armagedão.
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