Escolho retratos
Para um álbum que hei-de construir do nada
Um dia, quando o tempo sobrar
E não souber o que hei-de fazer.
(com as mãos, com o corpo e com a cabeça)
Escolho fotografias
Poses antigas, avôs, avós, sobrinhos
Gente que nem sei identificar
E voltando as costas à moldura
Procuro escritos que digam o que foram
Alguma data, uma dedicatória, uma assinatura
Uma pista que me leve até aos meus antepassados.
Sem querer, num acaso, encontro uma fotografia de nós,
Esquecida no meio da papelada.
(como estamos bem, jovens, bonitos, contentes)
Procuro momentos, aconchegos, olhares
Coisas simples, grandes nadas
Fotografias antigas em papel, em negativo
Embalsamadas, escondidas... muitas perdidas
Fotografias que esperam para serem lembrança
Mesmo que já não tenhamos memória
Mas sobreviva uma esperança de ser comparação,
De uma semelhança que nos desperte e revele
Uma ligação.
Antes de nós, outros existiram
(e foram jovens, bonitos, contentes)
Que fizeram, por algum sentido desconhecido,
Ou força que a natureza esconde
Com que, agora, estejamos aqui, a folhear retratos
A juntar pedaços, a admirar rostos, poses, brincadeiras
Olhares, maroteiras, caras sérias, carrancudas
Rostos mudos na sépia do papel,
Aqui! onde tudo ficou e continua a estar.
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