Tinha de se arranjar
Qualquer coisa
Que não ofendesse
(muito)
Então
Chamaram-me poeta.
Eu não me importei,
Afinal, agora,
Já era qualquer coisa!
E assim me despedi.
Adeus poeta!
Que os bons ventos
Te levem e tenhas saúde
Eu fico com a guitarra
Que era do meu pai,
Com as agulhas do tricot
Que eram da minha mãe
E o sorriso e a voz
Dos meus filhos
(que continuo a ver
e a ouvir, como sempre
como se fosse agora
a primeira vez)
Filhos,
Alvos de neve
Escuros de caruma
Doces como a alvorada
O silêncio e a trovoada.
Tinha de se arranjar
Qualquer coisa
que não ofendesse
Muito.
Encosto a minha cabeça ao teu ombro
E deixo-me ficar.
Sem noite, sem remédio, sem poesia.
Só eu,
E este tempo frio, e
Este braseiro
que não me aquece os braços.
Só, na companhia dos que amo
Envolto em milhentas
Solidões,
Encontro resistência
Para me sustentar
Alimentado pelo mundo.
A poesia pode ser verdade
Emergencia, vontade.
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